Entro no quarto às 21:27 com a intenção de guardar algumas roupinhas no guarda-roupa. A claridade o faz acordar e pedir o tetê. Coloco as roupas na poltrona ao lado da caminha dele e me deito na tentativa de acalmá-lo.
As roupinhas ficaram na poltrona, meu banho ficou por tomar. Um e-mail importante que precisava enviar continua só na minha mente.
Separo meu pijama ainda sonolenta e irritada por não ter feito nada do que planejei. Deixo a água quente cair e o pensamento recorrente das últimas semanas me invade: hoje não consegui fazer nada.
Toda manhã acordo com o sorrisinho dele me puxando e pedindo o tetê. Minutos depois, as perninhas já estão se arrastando pelo chão. Café da manhã. Fralda. Vitaminas. Escovar os dentes. Brincadeiras. Fralda. Tetê. Soneca. Almoço. Fralda. Passeio. Tetê. Brincadeira. Frutinha da tarde. Banho. Tetê. Passeio. Jantar. Tetê. Soninho.
Quando deito na cama, penso que não fiz nada. Todos os dias adormeço com essa sensação. Mas hoje tentei recapitular nosso dia, e me lembrei das mãozinhas que, há poucos meses, não tinham força nem coordenação, e agora já seguram, apertam, cutucam, jogam e apontam.
Lembro da boquinha que mastiga os alimentos com vontade. Que resmunga, grita e se abre em sorrisos durante as brincadeiras. Das perninhas que, em movimentos rápidos, percorrem a casa engatinhando ou se esticam para ficar de pé.
Penso nos olhinhos atentos a todos os barulhos e imagens, que vão se fechando aos pouquinhos quando chega o sono. Nos carinhos, nos olhares, no respirar, no repetir, no expressar.
Todas as noites eu me deito com a sensação de não ter feito nada, quando na verdade estou cumprindo a maior e mais difícil missão da minha vida: estou criando uma pessoa.
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Autora: Aline Monteferrante / @line_montef
