Mulheres-mães protagonistas da própria história

Ser mãe de prematuro

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Como todas as outras mães já foram homenageadas, vou representar agora o tipo de mãe ao qual pertenço. Mesmo que o tempo tenha passado, algumas lembranças permanecem, e as conto agora para vocês

Eu sou mãe de um bebê prematuro, o Miguel – Passarinho. E ser mãe de prematuro é ser pega pela surpresa e o despreparo.

É não segurar seu filho nos braços quando nasce. É olhar pela incubadora. É sentir sua cria pela ponta dos dedos esterilizados em álcool gel.

Ser mãe de prematuro é ser viciada no monitor. É ver seu filho, o meu Passarinho, respirando por aparelhos com sensores medindo, o que há de vida na sua criança. São os benditos 88% de saturação.

É tirar leite na máquina. É ver o leite entrando pela sonda. E torcer para a quantidade aumentar todo dia. É ter paranoia com o processo ganha/perde de peso diário. Num dia ganha 10 gramas e no seguinte perde 15. Isso é um desespero.

É se incomodar com as aspirações e manobras, mas saber que é um mal necessário. É ver picadas e mais picadas para exames e não respirar enquanto o resultado não aparece.

É chegar ao hospital com o estômago em cambalhotas, com medo do que vai ouvir do pediatra. Para ser mãe de UTI tem que virar pedinte e mendigar todo dia uma boa notícia.

Mesmo que seja a bendita palavrinha “estável” – significa que não melhorou, – mas também não piorou. E não se esqueça de agradecer o cocô e o xixi de cada dia. Sinal de que não tem infecção.

Mãe de prematuro também tem rotina. UTI-casa-UTI, de segunda a segunda. Sem descanso. E como é possível descansar? Sabendo que meu Miguel – Passarinho está naquele estado.

Para ser mãe de prematuro, é preciso muita fé. Não importa a religião. Não tem padre, pastor, ou pai de santo. Não precisa de igreja, culto ou mesa branca. Porque na hora do desespero é você, e Deus. É joelho no chão do banheiro da UTI para pedir milagre, ou pedir que acabe o sofrimento. Haja fé. E só com fé. É ser a rainha da impotência, por ver o sofrimento e a dor do seu bebê, como eu via do Miguel e simplesmente não poder fazer nada. Só confiar.

É “bater papo” com seu filho através da incubadora. E ter lágrimas escorrendo pelo rosto todo dia, por não poder sentir seu cheirinho e beijar seus cabelos.
Mas, ser mãe de prematuro é superação, é ter história para contar. Como eu contava as histórias do passarinho que matava leões.
É entender de um monte de doenças que ninguém nem imagina que existe. É contar o tempo de um jeito diferente. Idade cronológica e idade corrigida. É difícil de entender.

É sair da UTI com festa e palmas. E deixar por lá amigos eternos e preciosos. Ser mãe de prematuro é ter medo do vento, da bronquiolite, do inverno e do hospital.

É ver as crianças que têm a mesma idade dele crescendo e o seu filho ainda miúdo, magrelo e sem falar. Mas se tem saúde, é isso que importa. Na verdade, depois de meses de UTI, saúde é só o que importa.

Toda mãe é um ser guerreiro por natureza. Mas a mãe de prematuro, precisa ser guerreira em dobro.
E isso nos difere e ao mesmo tempo nos iguala. Lutadoras, perseverantes, resilientes e frágeis, a ponto de desabar a qualquer momento, mas com uma força absurda.

Uma força que talvez venha de um útero vazio antes do tempo. Assim são as mães dos bebês que nascem antes. Assim sou eu, mãe de prematuro extremo. Mãe do Miguel – Passarinho.


Texto: Carolina Jardim – Instagram: @maedepassarinho.


Texto revisado por Cristiane Araújo.

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