Quando ser mãe também significa despertar uma voz em si

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Sempre achei que ser mãe era sobre cuidar dos filhos e até mesmo sobre a possibilidade de passar a ver o mundo pelos olhos deles. Mas descobri que também é sobre se redescobrir.

Foi a maternidade que me mostrou, entre alegrias, exaustões e descobertas, que a gente não espera, que existia em mim uma escritora.

Tudo começou com uma birra. Isabela, minha filha mais velha, tinha três ou quatro anos e se recusou a usar uma calça jeans por ser azul, que seria “cor de menino”. Aquilo me incomodou profundamente. Eu, que tinha preparado um quarto neutro quando estava grávida, querendo deixá-la livre para escolher quem seria, percebi que os estereótipos já tinham encontrado um jeito de se fazerem presentes. Foi ali, tentando entender e explicar o mundo para ela (e talvez para mim também), que peguei o celular e comecei a escrever.

Naquele momento, a escrita foi uma forma de respirar e traduzir o que eu sentia sem transformar tudo em conflito. Entre uma rotina corrida e uma vontade enorme de ajudar minha filha a enxergar o mundo com mais liberdade, criei uma história.

Quando li para ela, vi os olhinhos brilharem. Ela gostou tanto que pediu que o texto tivesse também desenhos. Depois, pediu que a história estivesse “no papel”. Foi esse brilho nos olhos dela que me empurrou para frente, para procurar uma ilustradora, para imprimir o livro, para acreditar que talvez outras crianças (e mães) precisassem ouvir aquilo também.

Deu certo! “Rosa é cor de menina!? Existe isso?” fez sucesso em casa, na escola, entre os coleguinhas, e vem alcançando cada vez mais pessoas. Para muitos, é só um livro infantil. Mas, para mim, é a representação do momento em que percebi que a maternidade não me limitava e, sim, me ampliava.

Embora eu continue atuando como servidora pública, hoje divido esse espaço profissional com a literatura. Tenho participado de eventos, como a Bienal do Rio, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a Bienal de São Paulo, entre outros. Também visito escolas, conto histórias, converso com crianças e famílias sobre empatia, liberdade e respeito às diferenças.

A escrita entrou na minha vida de um jeito despretensioso, mas foi ficando. E hoje entendo que, no meio dos desafios da maternidade, encontrei um novo caminho que une o que sou como mãe, mulher e agora, também, escritora.

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Por Bruna Fontes / @brunafontes_escritora

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