Maternar se tornou para mim o meu grande desafio de vida. Por isso nomeio também como devaneio, porque parece que preciso me superar diariamente para manter todos nós vivos, sóbrios e seguros. Esse talvez seja o maior desafio, que se entrelaça aos momentos de sonhos e delírios de que tudo está florido, de que as coisas fluem tranquilamente de forma natural e até surreal.
Ser mãe sempre foi meu grande sonho e objetivo de vida. O fato de ser professora há muitos anos me fez repetir o discurso: “imagina, serei ótima mãe, eu domino uma sala cheia de crianças, será muito gostoso e divertido, a melhor e maior aventura da minha vida”. Eu acreditava que seria uma experiência tranquila, pois já tinha conhecimento com crianças em quase todos os quesitos possíveis e imagináveis.
Porém, todos os meus sentidos de vida foram abalados ao descobrir que não era bem assim. Lidar com meus filhos é completamente diferente de lidar com os alunos em sala de aula. Tudo é tão incerto, não tenho controle de nada, e muitas vezes me pego oscilando entre sorrisos e choros descontrolados. Sinto que acertava com as outras crianças e erro tanto com os meus filhos, mas, na verdade, também nem sei se eu acertava realmente como professora.
Mas, enfim, precisei encontrar formas de ressignificar esses momentos de descontrole para não pirar. Tem dias que consigo, e outros não, mas me acolho diariamente e acalanto meu coração com o mantra diário: “está tudo bem, hoje nem tudo deu certo como gostaria, mas amanhã tentaremos de novo”. E assim sigo tentante, todos os dias.
Como nas recordações da minha infância, lembro sempre da minha mãe trabalhando muito, pois não tinha alternativa – foi mãe solo. Coloquei como meta de vida tentar fazer diferente e garantir tempo de qualidade para acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos meus filhos. Organizei minha vida e carga horária de trabalho para priorizar estar com eles nas manhãs, para que não ficassem o dia todo na escola.
O preço por essa escolha é alto. Quando a conta não fecha, sobra mês e as vezes falta dinheiro. Quando o cansaço bate e a cabeça dói de tanto grito e choro, a casa parece um ringue: um filho de sete anos que por muito tempo reinou soberano e um bebê de um ano e oito meses correndo pela casa como uma gralha aos berros ensurdecedores. Mas basta aquele sorrisinho banguela, andando pela casa e chamando “imão, mamãe”, como quem diz eu estou descobrindo o mundo tenha paciência comigo, para transformar qualquer ringue em espaço de puro amor e vivência da maternagem. E é aí que me sinto privilegiada por ter esse direito de escolha.
Nossas manhãs são divertidas. Temos aventuras no jardim caçando borboletas e passarinhos, cuidamos das plantas e dos cachorros. A hora do dever de casa do mais velho é um grande desafio: ajudar na alfabetização enquanto seguro o caçula tentando pegar os livros e jogando os lápis para os cachorros.
É um verdadeiro malabarismo, que mostra e prova que sim, temos momentos conturbados e tudo isso faz parte do maternar diário, que muito exige da mulher-mãe, mas também deixa o coração quentinho. Esses momentos passam num piscar de olhos, e o privilégio de vivê-los com os meus meninos faz tudo valer a pena.
Como mãe real que sou, não posso romantizar o cansaço, a sobrecarga, as angústias e as incertezas que também são companheiros nessa jornada materna. Quantas vezes o chuveiro é meu maior companheiro, para que eu possa naquele desaguar junto com toda aquela água que cai.
A rotina diária da maternidade até o horário de levar as crianças para a escola, é praticamente uma meia maratona de São Silvestre. Quando finalmente sento, olho, e me pergunto como consegui atravessar esse tsunami.
Acredito que a mãe que aprende a surfar no caos se respeita, se acolhe e valoriza cada pequena vitória. Porque o mar ora está calmo, ora revolto, e a única certeza é que, se agora a onda tá gigante, a próxima virá mais calma, dando a oportunidade de respirar e seguir em frente sempre.
Hoje sinto e aceito que não sou a melhor mãe do mundo para os meus meninos Davi e Gabriel. Mas sigo acreditando que, entre tentativas, acertos e erros, aprendemos muito todos os dias. Na verdade, eles ainda não sabem, mas a situação é inversa: aprendo mais com eles do que ensino. Eles são minha cura diária e meu processo de evolução para ser um ser humano melhor, por eles e para eles.
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Andriele Franco Pereira / @drifrancob / @andriele.psico





