Nunca imaginei que escreveria sobre o dia em que quase perdi meu filho. Também nunca pensei que fosse possível sentir tanta dor — e, ao mesmo tempo, encontrar uma força que eu nem sabia que existia em mim.
Essa não é só a história do nascimento do Benjamin. É a história de um coração partido e costurado pelo amor mais visceral que uma mãe pode sentir. Uma história de transformação.
Sempre fui uma pessoa de planos. Tudo na minha vida era organizado: carreira, viagens, metas claras: viagens, casa, carro. Quando decidimos ter um filho, foi com todo cuidado. Benjamin foi planejado, desejado. Mas a vida, como sabemos, não obedece a planilhas. Fiquei grávida em abril de 2020, em plena pandemia. Apesar do cenário mundial caótico, minha gestação correu bem. Enjoos no início, um pouco de ansiedade, mas tudo dentro do esperado.
Até que, no final da gestação, minha pressão começou a oscilar. A médica me tranquilizou, acompanhamos de perto e decidimos esperar até 40 semanas. Se o Ben não nascesse até lá, faríamos a indução.
Mas, com 39 semanas e 6 dias — um único dia antes da data marcada —, eu acordei diferente. Era cedo, seis da manhã, e percebi que ele não se mexia. Fiz tudo o que havia aprendido: tomei café, água gelada, mudei de posição. Nada. Meu marido tentou me acalmar. “Ele está dormindo”, disse. Mas dentro de mim, eu sabia. Algo estava errado.
Fomos ao hospital. Fiz cardiotoco, ultrassom, glicose. Nada fazia o Benjamin reagir. Foi então que, com muita sensibilidade, a equipe médica decidiu pela cesárea de emergência. Tudo aconteceu muito rápido. Em poucos minutos, meu filho nasceu — mas não chorou.
Ele havia aspirado mecônio e estava sem respirar. As médicas começaram o protocolo de reanimação. Eu não via nada, mas meu marido viu tudo — e guarda até hoje aquelas imagens na memória. Foi o momento mais angustiante da minha vida.
Benjamin foi direto para a UTI. Lá, passou 38 dias. Nos primeiros, seguiu um protocolo de hipotermia para preservar o cérebro e evitar sequelas. Depois, enfrentou uma bactéria resistente que nos tirou o sono por mais de duas semanas. Descobriram ainda que ele havia fraturado a clavícula no parto. Mais tarde, enfrentamos alterações graves nos níveis de cálcio — que só se estabilizaram quando ele já tinha quase nove meses de idade.
Foram dias intermináveis. Entre boletins médicos, incertezas e noites em claro, eu aprendi a respirar fundo e a seguir. Uma hora por vez. Às vezes, um minuto por vez. Fui atravessada pelo medo, mas também por uma coragem que não sabia que tinha. Lutei ao lado dele, silenciosamente, em oração, em presença, em resistência.
Benjamin me transformou. A mulher que controlava tudo teve que soltar o controle. Quebrar. Refazer. Aprendi a confiar no que não se vê, a celebrar pequenas vitórias, a me perdoar pelas falhas, a escutar meu corpo, minha intuição.
Hoje ele é um menino alegre, saudável, cheio de energia. É meu companheirinho, meu grudinho, como ele mesmo diz. Nossa conexão é profunda, quase espiritual. Olhar para ele correndo, falando, cantando — depois de tudo o que enfrentamos — é um milagre cotidiano.
Achava que eu o havia salvado. Mas hoje sei que ele também me salvou. Me salvou da rigidez, da pressa, da falsa sensação de controle. Me reconectou com o essencial. Me ensinou que o amor verdadeiro é coragem. É entrega. É se refazer em silêncio, quando ninguém está vendo.
Contar essa história não é fácil. Ela ainda dói. Mas é também uma forma de honrar a mulher que eu fui naquela sala de parto. A mãe que nasceu junto com aquele bebê quieto, que aos poucos ganhou força, vida e riso.
E se essa história alcançar outra mãe, outra mulher em meio ao medo e à dor, que ela sirva como lembrete: a força que você precisa já está aí, dentro de você. Você só vai descobrir quando for preciso. Assim como eu descobri.
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Ana Danielle Nunes Balieiro Amorim / @danibalieiroamorim





