Crianças não nascem capacitistas

Crianças só viram adultos capacitistas se forem afastadas do que é diverso.

Crianças não nascem capacitistas

Compartilhe esse artigo

Ser mãe de uma criança com deficiência é se surpreender todos os dias. Muitas vezes, negativamente, com julgamentos e situações capacitistas. Mas tem dias em que o afeto abraça, e é como se o tempo congelasse nesse momento.

Um desses dias começou em uma ida à escola.

Desço do carro, pego minha filha no colo, a cadeirinha, a mochila e a bolsa. Dou uma olhada rápida para ver se não esqueci nada no carro de aplicativo. Fecho a porta e começamos a atravessar a rua. Ao longe, escuto uns gritinhos estridentes que não consigo entender. Conforme vamos ultrapassando a faixa de segurança e nos aproximamos do portão da escola, as vozes vão ficando mais nítidas: palminhas, gritinhos e um coro de vozes de meninas gritando “Nicole Nicole Nicole”.

Quando chega perto do portão, Nick também começa com seus gritinhos de felicidade. Ela entra e se junta a um mar de meninas de diversas turmas, não só da sua. Solta minha mão e, sem olhar para trás, segue com as meninas.

Você, pai, mãe ou responsável por uma criança, deve achar isso bem normal: ver sua criança brincando com outras. Mas, para mim, não é.

Nas pracinhas e brinquedos, normalmente, quando chego com a Nick, as mães pegam os filhos e saem de perto, como se a deficiência da minha filha fosse contagiosa. Isso reforça para as crianças a ideia de que precisam manter distância de outra criança com deficiência. Minha filha já foi chamada de monstro e até empurrada.

Mas as crianças não nascem capacitistas. Elas se tornam ao longo da infância, com a ajuda dos seus responsáveis, reproduzindo o que lhes é ensinado e mostrado.

Naquele dia, as meninas chegaram perto da Nick, a chamaram para ouvir histórias e a levaram pela mão. Uma delas perguntou:

— Tia, porque as mãos delas mexem assim?

Expliquei que a Nick tem uma deficiência e, por isso, ela é diferente e faz alguns movimentos que não consegue controlar. A menina respondeu:

— Ah, tá.

E seguiu de mãos dadas com a Nick. Simples assim.

Não é preciso cochichar, apontar ou afastar as crianças de outra com deficiência. Basta explicar de forma simples e direta, e seguir a vida. Crianças são curiosas, vão perguntar, e está tudo bem! Elas se entendem nas diferenças. Se tiverem contato com outras crianças diferentes delas, vão crescer agindo de forma tranquila diante da diversidade. Crianças só viram adultos capacitistas se forem afastadas do que é diverso.

Hoje minha filha tem amigas que a esperam no portão da escola, a pegam pela mão e a levam para brincar. Eu, do portão, fico observando enquanto se afastam. Vejo minha filha com suas amigas indo brincar na hora do recreio. Não sei como explicar o quanto isso é significativo para uma mãe.

Tem dias que são bons demais.

_

Autora: Adriana Gomes Zimmermann / @Drikazimmermann

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Pactos

Últimos Artigos

Deixe um comentário