Cama fria, pares curiosos de olhos me observando enquanto em mim berra a dor nua e crua. Olho ao redor tonta, embriagada, nauseada, entorpecida pela dor e sofreguidão. Penso comigo mesma que não é o momento certo para autopiedade, talvez nunca mais o seja!
Lembrara-me de viver algo aterrador assim 8 meses atrás, quando vira pela primeira vez aqueles dois pontos marcando positivo, o misto de emoções que tomou conta de mim: medo, ansiedade, angústia, pavor e felicidade… Sim, felicidade, tampouco preocupara-me com o que a sociedade diria sobre o fato de ser mãe solo, verdade seja dita, era uma jornada a solo!
Seria boa mãe? Daria uma educação apropriada ao meu filho? E quando as contas batessem? Evitaria causar traumas a ele ou seria a razão deles? – Indagava-me incessantemente.
A verdade é que não estava pronta para ser mãe, mas, ao mesmo tempo sentia-me pronta desde que me conhecia por gente. Não existem manuais para mães, mas somos treinadas por mães, dilema ensurdecedor!
Sete…não uma, mas, sete camadas são cortadas, conto-as uma a uma enquanto o bisturi rasga o último resquício da menina que havia em mim.
Suporte (faço uma nota mental), é tudo por ele (sussurra uma voz inaudível em meu ouvido), seja um pouquinho mais forte (encoraja a minha mente), valerá a pena (reconforta o meu coração).
É um menino – anuncia uma voz!
Olho-o e lágrimas pesadas escorrem pelos meus olhos, valera a pena!
Seres humanos possuem um rol de sentimentos, todavia mães sentem todas as emoções ao dobro. O olhar dele redefiniu o meu conceito de amor.
Espere, deixe-me dizê-lo direito, gerá-lo redefiniu o conceito de amor que mal cabia no pequeno coração pulsante daquela menina inocente. Foi necessário renascer mãe para compreender o amor na sua plenitude (sorrio genuinamente com essa redescoberta, estava exausta, em frangalhos, mas, ainda assim, amava-o)!
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Carina Mulieca / @carinadaconceicaomulieca


