E os interesses?

WhatsApp Image 2025 06 12 At 12.24.26 Priscilla Rodrigues 1024x917

Se, para a maioria, o comum é achar todo mundo feio, para mim, sempre foi o oposto. Sou taxada pelo meu “gosto exótico e excêntrico”, sem entender muito bem, até hoje, o que isso significa. Conforme fui amadurecendo, percebi gostos particulares, mas, sempre mantive uma mente aberta à beleza alheia. Também não sei explicar bem o motivo de sentir interesse pelas pessoas em tantos momentos e tantas vezes. 

Meus apaixonamentos são platônicos e passageiros, mas eu gosto de senti-los. Contudo, é polêmico e difícil falar sobre esses sentimentos depois que o mundo nos converte ao que chamamos de casamento: um pacto monogâmico já dado. Ninguém precisa te ensinar o que está por trás desse sistema. 

Mas, assim, a gente deixa mesmo de sentir interesse pelos outros automaticamente depois que inicia uma relação ou a gente passa a sublimar, esconder, disfarçar, guardar para si, ter vergonha de falar sobre isso? Que loucura foi essa que a gente internalizou, que somos do outro e o outro é nosso, a ponto de não poder falar ou sentir algo por alguém que não seja essa pessoa com quem estabelecemos relação? 

Uma vez, numa briga, meu pai se irritou com minha mãe por um motivo banal, a respeito de um ex-namorado. Ou seja, naquela ocasião, meu pai estava demonstrando ciúmes de um relacionamento que já havia terminado há mais de 30 anos. Corta para a cena em que minha mãe e eu vamos a uma ginecologista nova. A médica pergunta quando ela transou a primeira vez e ela responde que aos 21, quando se casou. Eu sei que não foi. 

Ouvi muitas conversas dela com as amigas, confessando ter sido aquele ex-namorado o primeiro de todos. Mas, por que ela achou que não poderia falar sobre isso na minha frente? Por que ela nunca demonstrou nenhum tipo de vontade ou desejo por outra pessoa ou assumir que teve mais de um parceiro sexual? 

Esse é um tabu que precisamos discutir. E nem estou falando sobre abrir relação, não-monogamia e afins. Estou falando de sinceridade entre pessoas adultas, dispostas a ficarem juntas, porém, reconhecendo a humanidade e os interesses que nutrem por terceiros/as. Imagina que irreverente e leve seria poder contar para aquele/a que mais convivemos de uma pessoa linda que vimos na rua ou de um professor muito sedutor e ainda usar isso para uma fantasia? Sabe, ninguém é dono de ninguém, e os homens sabem disso há tempos! 

O filme Vidas Passadas (2023) ilustra bem a relação madura e interessante entre a protagonista e seu marido. Este, reconhecia a paixão (não resolvida) de sua esposa por uma pessoa do passado. Ele não evitou falar sobre o assunto e ainda a acolheu em um momento de vulnerabilidade, em que é presumível que ela estivesse lamentando por ter deixado passar a história com o amigo de infância. Este tipo de atitude, para mim, só reforça o amor deles, ainda que eu tenha torcido para que ela ficasse com o outro.

Então, que tal sermos mais honestas conosco e com nossos/as parceiros/as? Vamos assumir nossos interesses? Desejar sem que isso seja um tabu e conversar mais sobre quais deveriam ser os verdadeiros limites da relação? Assumir desejos e paixões deveria fortalecer conexões, oferecer segurança e nos dar liberdade para exercitarmos-nos  em nossa totalidade.

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Autora: Priscilla Fonseca / @pri.fon

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