Mulheres-mães protagonistas da própria história

Não somos namorados

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Dia dos namorados chegando, e este ano resolvi me antecipar. Não vou passar o dia vendo fotos apaixonadas com a legenda “Eternos namorados”.

Vamos começar: Não somos namorados! Ufa! Como dizer isso me deixou leve. Vou dizer mais uma vez: não somos namorados. 

Namorado a gente era há 22 anos, quando eu usava top e dançava enquanto acariciava nas minhas costas. Quando a gente se beijava o dia todo e inventava motivo para não ir embora. 

A gente namorava quando conversava por horas dentro do carro na porta de casa, rindo ou dividindo nossos planos de terminar a faculdade, ter um bom emprego, casar. 

A gente namorou quando tudo deu certo e até mesmo quando algumas coisas deram errado. Mas agora não. Não mais. Não depois desses 22 anos. Dizer isso seria desdenhar da nossa história. Ignorar todas as vezes em que suas mãos se deslizaram sobre minhas costas, não mais numa dança, mas como aleto, na batalha contra a infertilidade, no pós-aborto, no puerpério. 

Seria desconsiderar todos os abraços recebidos em meio à sangue, suor, leite e papinha de abóbora. É desprezar o nosso esforço para nos encontrarmos ao tardar da noite, por 30 minutos que seja, para dividirmos preocupações, que não mais têm a ver com nós mesmos, mas com dois seres que amam nos ver unidos, mas que parecem fazer de tudo para nos separar.

E, tentarmos nos enquadrar num padrão de relacionamento, qualquer que seja, é, além de frustrante, desrespeitoso com a gente mesmo, com as nossas rugas, nossas noites mal dormidas.

Declararmo-nos namorados deprecia o nosso amor. Desabona nossa escolha diária de permanecermos juntos. Do jeito que der. Até que um dia, e este dia vai chegar, a gente se reencontre na cozinha, num café da manhã qualquer. Sobre a mesa, nenhuma peça avulsa de brinquedo. Nossas mãos se tocarão, e a gente não precisará dizer nada para ter a certeza de que deu tudo certo, mesmo nas vezes em que não deu.

P.S.: Na foto, Clara bebê, avisando que, cedo ou tarde, a gente cederia nossa cama pra ela.

Autora: Grazielle Brandão – @graziellebrandao.

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