Coluna – Nasce uma mãe, nasce uma culpa?

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Andei pensando bastante na frase “nasce uma mãe, nasce uma culpa”. E talvez eu discorde dessa afirmação! Chocada? Não fique, eu explico!

Sinto culpa desde a gestação. Culpa por não planejar tudo isso, por sentir medo, por trabalhar muito. Depois do parto, veio a culpa pela fralda que vazou, pela dificuldade inicial da amamentação, culpa pela irritação dos dias em que não dormi direito!

Sentimos culpa por rejeitar visitas nos primeiros meses e também culpa ao aceitar receber alguém! Sentimos culpa quando tentamos um ritual do sono e culpa quando ignoramos a rotina do bebê! 

Mas, não se restringe a maternidade!

Sentimos culpa quando nosso companheiro (a) precisa de nós e só temos forças para sobreviver. Sentimos culpa por não arrumar a casa, não trabalhar, não ter tanto tempo para os almoços em família!

Culpa por não manter as atividades físicas, o cronograma capilar e os cuidados com a pele!

Sentimos culpa por não agradar aos que nos cercam, mesmo em um momento tão delicado quanto o puerpério.

A culpa desperta uma guerra desleal de nós contra nós mesmas! É impossível e desumano vencer.

A culpa vem, mas não só pela maternidade! Ela vem justamente para mulheres.

Ser mulher te faz sentir culpada. 

Toda essa culpa é fruto da forma como fomos historicamente socializadas! Tem a ver com as figuras que cuidado a quem somos relacionadas! Aos imperativos culturais que abraçam nossas mentes.

Ser mulher te faz sentir culpa.

Ser mãe te faz sentir culpa.

Não ser mãe te faz sentir culpa.

Fazer dieta te faz sentir culpa.

Não fazer também.

No fim, tentam nos convencer de que precisamos ser perfeitas para sermos boas, e jogam em nossas costas o fardo de se transformar em algo impossível!!!

Entender isso é triste, mas necessário.

É assim que se nasce a resistência que é capaz de nos consolar nos dias difíceis!

Quando a culpa for ensurdecedora, lembre-se:

Você não está sozinha! E você é o suficiente. Seja apenas a melhor versão que conseguir ser! 

É o bastante!

Ser capaz de seguir em frente ainda quando as portas se fecham, ainda que a noite seja caótica e mesmo quando as contas não param de chegar! Isso é o bastante. Doloroso. Cansativo. Mas, é o suficiente. Não desistir é o bastante.

Tomar um banho por dia, fazer um almoço rapidinho e, se der sorte, tirar um cochilo é o bastante!

A maternidade muda a vida de toda mulher, é verdade! Mas viver essas mudanças tendo em mente o quão irreal são as expectativas dos outros é uma baita ferramenta para dar conta.

E falando nisso, não precisamos nos sentir culpadas por não dar conta (ninguém daria mesmo!).

Sigo em frente com a certeza de que um dia a minha criança vai ouvir histórias desse começo de vida, vai também olhar ao redor e então… vai sacar!

Ela vai sacar quem sempre se doou por inteiro para tentar ser o bastante!

Nesse dia, espero que entenda que respeitei meus limites e que, tal como eu, ela deve respeitar os dela.

Mas, principalmente, espero que jamais tenha que sentir culpa por ser quem é.

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