Por Samara Barroso – @pretagogias
Algumas semanas têm sido difíceis. A todo momento, me sinto sufocada pelas obrigações, pelas demandas e responsabilidades de criar, nutrir e educar dois seres humanos. Sinto, sim, um grande e profundo amor por meus filhos, fico envaidecida com suas pequenas conquistas e progressos. Porém, o peso da culpa, da autocrítica e do medo de falhar, são esmagadoramente cruéis.
Ser mãe solo nunca foi tarefa fácil. Sim, eles têm um pai. Mas, a maternidade aqui é solo há muitos anos.
Tenho sentido uma urgência em transformar nossa relação. Especialmente com o mais velho, que está entrando na adolescência.
Lembro muito das angústias que eu sentia na idade dele, e me lembro de como construí uma relação muito próxima com minha mãe, ainda que vivêssemos entre tapas e beijos. Sempre tive nela uma amiga, um porto seguro, para quando tudo e qualquer coisa desse errado. E, de repente, percebi que talvez eu não esteja sendo essa pessoa para o meu filho. Isso me paralisou, me feriu e agora, me impulsiona.
Vi uma entrevista do Lázaro Ramos dizendo o quanto sofre por estar longe dos filhos, e como ele admira os filhos como pessoas e gosta de ser amigo deles, ouvi-los falar… Tocou num ponto sensível pra mim. Será que meus filhos seriam amigos da Samara, se ela não fosse sua mãe?
Na maioria das vezes, penso que não. Eles não têm mais visto meu lado que sorri, dança, canta a plenos pulmões ou ri da barriga doer. Eles não me escutam mais falar dos meus sonhos, minhas ideias e meus ideais. Eu quase não tenho tido forças para dizer o quanto os amo, citar as características que me fazem admirá-los.
Dói demais quando penso que trabalho em escola e passo o dia ganhando e distribuindo beijos e abraços, sorrisos e compreensão para pessoinhas que nem sei qual a cor ou a comida preferida. Enquanto isso, os meus dois preferidos nesse mundo e em qualquer outro, me veem chorar, ouvem gritos e recebem impaciência. Não consigo identificar em que ponto me tornei o que sou agora.
A mãe que eu quero ser é a que não tem medo de mostrar sua humanidade e suas imperfeições, mas também a que acorda todos os dias disposta a refazer os passos e trilhar o caminho que nós três escolhermos como família. A mãe que eu quero ser é a que é admirada, mas também compreendida e acolhida pelas crias.
A mãe que eu quero ser é essa que acordou hoje e decidiu que já é a melhor mãe que eles podem ter. É difícil reconhecer, mas, acho que já sou um tanto da mãe que quero ser.
Revisão: Joana Oughdoud