Hoje pela manhã, me deparei com a televisão ligada em um programa aleatório — aqueles que entrevistam alguém enquanto uma plateia assiste emocionada. A entrevistada da vez era a mãe do primeiro piloto de Fórmula 1 autista. Ela falava, orgulhosa, sobre os desafios enfrentados pelo filho, enquanto, ao fundo, passavam algumas cenas do piloto em ação.
Fiquei maravilhada com tudo o que vi e vivi um pouco da emoção daquela mãe, que conseguiu realizar o que todas nós, mães, desejamos: ver nosso filho seguir uma profissão e viver de acordo com o que a sociedade espera.
Mas, enquanto escutava o entrevistador dizer frases como: “É possível vencer a deficiência”, “Ele conseguiu seguir, apesar da deficiência”, senti uma inquietação. Essas frases prontas, que se repetem em tantos discursos, em nada ajudam a nossa luta por inclusão. Pelo contrário, reforçam uma ideia perigosa: a de que a pessoa com deficiência só tem valor quando supera a própria condição.
Naquele momento, olhei para o meu filho de 14 anos, sentado em seu lugarzinho de sempre, perto da porta, e pensei no quão invisíveis são os deficientes que não se encaixam nesse roteiro da superação.
Costumamos discutir os padrões impostos pela sociedade: sobre corpos, cores, cabelos, gêneros… Mas raramente falamos sobre os padrões impostos às pessoas com deficiência. A elas, espera-se sempre uma narrativa inspiradora. Que sejam exemplos de força, de vitória, de “superação” — de preferência, dentro dos moldes da normalidade.
Mas e quem simplesmente vive do seu jeito? Com seus silêncios, seus trejeitos, seu ritmo? Onde estão as histórias dessas pessoas? Elas também merecem ser vistas, respeitadas e incluídas.
Eu não vejo a deficiência como um obstáculo. O obstáculo real é a invisibilidade. É essa expectativa cruel que recai sobre os ombros de quem não atende ao padrão. É essa luta silenciosa e diária que o deficiente e seus familiares enfrentam, sem descanso.
O meu maior desejo é que o mundo aprenda a aplaudir não apenas os que sobem ao pódio, mas também os que simplesmente existem — como meu filho — com dignidade, com calma, com beleza, no seu tempo e do seu jeito.
Atenciosamente,
Uma mãe
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Tatiane Alves Rodrigues de Souza / @tati_anealves





