É que, quando a gente vê o tracinho indicando positivo, parece que a gente vai morrer.
E vai mesmo.
Não dessa forma que você imaginou, mas de pouquinho em pouquinho… sabe? Todos os dias, você vai sentindo a vida se esvaindo aos poucos pelas suas mãos.
Num dia é um enjoo que não te deixa comer sua comida preferida. No outro, é aquela tonteira que não te deixa sair de casa. Daí você discute com alguém que você ama. E chora sem saber o porquê. Depois, é um desmaio repentino na rua. Uma cobrança excessiva. Uma reprodução de estereótipos. Lembra de situações traumáticas do passado. Não consegue sossegar a mente, nem as emoções. E quando para pra perceber, você se depara com uma solidão indescritível. Você e você mesma. Sua luz e sua sombra se encontrando de forma esplêndida e dolorosa, unida a uma sensação de que ninguém, simplesmente NINGUÉM, entende o que você diz, como você age ou o que você sente.
Você percebe que já não é mais a mesma.
Você se vira nos 30. Sobrevive como dá.
Você vai precisar se ausentar de tudo aquilo que almejou e planejou para si.
O mundo já não cabe mais em você. E nem você nele. Suas prioridades se tornam outras. Não faz mais sentido continuar vestindo a mesma pele que habitou nestes últimos anos. É preciso renovar a carcaça. Ela parece pesar, incomodar, te deixar inquieta.
Todo dia você vive um dia de cada vez e já não sabe mais pra onde tá indo. Pra onde a vida leva… Você finalmente perde o controle de toda e qualquer situação com seu corpo, sua mente, seus planos, sua trajetória.
Nosso único apego humano nessa terra é o nosso corpo. Reconhecer-se fora de seu controle é procurar outro motivo para sua existência além daquilo que rege nossa carne. Uns se apegam ao amor, outros à divindades. Me apego ao simples ser das coisas. Em como as coisas são porque são. E é isso. Sem mistério. Inspirada por Alberto Caeiro. As folhas caem porque são folhas. E caem. Confiar na natureza e no ciclo da vida. Nascer, resistir, morrer, renascer, florescer. E assim por diante…
É que hoje faz um mês que meu mundo virou de cabeça pra baixo.
Um mês desde que ouvi o “ploc” enquanto dormia e senti que minha bolsa havia estourado às três da manhã.
Um mês que senti a pior dor da minha vida e, ao mesmo tempo, o melhor sentimento do mundo.
Um mês que respirei fundo, confiei no meu instinto e entrei nessa jornada de olhos fechados com ele… Sem saber absolutamente nada do que esperar, de peito aberto e mente firme nos meus propósitos e ideais.
Um mês que eu não faço ideia de que dia é hoje, ou que horas são. Um mês que sobrevivo, dia após dia. Quase não sei mais meus gostos, mas decorei todos os seus detalhes e trejeitos, ainda que tão imaturos.
Um mês que entendi o que é uma jornada de dor e amor ao mesmo tempo. De sacrifício e de limites. De cuidado e afeto. Nosso.
Um mês que vencemos juntos tantas barreiras. Doeu tanto que não dá nem pra definir aqui.
Se eu pudesse definir a maternidade em uma palavra seria dor. E isso não necessariamente significa sofrimento. A dor pode ser angustiante, mas edificante. Pode ser enlouquecedora e ao mesmo tempo fortaleza. Pode ser intensa e potente. Ela é o que você define. E, a cada dia que passa, mais faço das minhas sombras a minha melhor luz.
Um mês que descobri quem se importa de fato comigo e entende empaticamente a realidade de um puerpério.
Um mês que eu entendi a potência universal do nosso corpo.
Um mês que minhas prioridades mudaram, que minhas metas e planos cruzaram outras fronteiras. E isso me conforta tanto.
Já faz um mês que me perdi completamente e me achei em outros cantos.
Um mês que essa vinda estremeceu todos os meus pilares. Sigo firme com aqueles e aquelas que seguram a minha mão.
A parte boa é que agora eu tenho pra sempre um colo. Ninguém fala, mas a puérpera também precisa de cuidado que nem bebê. Me sinto cuidada por você, filho. Estamos aprendendo juntos. Que jornada louca é a maternidade. A gente encontra força na vulnerabilidade.
Agora entendo porque se comemoram “mêsversários”. Todo dia é uma luta diferente.
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Clara Vieira Ribeiro / @to.clararibeiro


