Nessa real família tradicional brasileira, a mãe e sua cria. “Nóis bebe” água, come legumes. Descascando mais, desembalando menos. Mas assim “memo”, de vez em quando, os dodói vem…Nariz começa a escorrer e a tosse dá sinal. Um hálito diferente já indicando a garganta inflamada, um “zóin” que acordou com conjuntivite e não consegue ver nada.
“Eita, vem aí um dodói?!!!!”
A cabeça da mãe, que já vive fervendo, já se esforça para recalcular a rota dos próximos dias. Criança “gripou”, a vida da mãe parou. Fica em casa cuidando, 24h por dia. E cuidado para não gripar também. Pois ter que cuidar de alguém estando doente, é a pior coisa que tem.
E isso “nóis faz” sempre, infelizmente. “É é aí que cê entende” a necessidade de se cuidar para cuidar do seu filho. Desde a alimentação até o espírito: Pois se eu não “tiver” bem, vai acabar refletindo na nossa interação, não tem separação. Quer saber se uma criança está bem? Pergunte primeiro se quem cuida dela “tá suave”.
O Homo sapiens é uma das espécies que o filhote fica mais tempo recebendo cuidados. Numa real comunidade, esse cuidar é compartilhado, todo integrante é responsável por educar. Já na selva de concreto da maldade, são mais de 11 milhões de mães que cuidam das “cria” sozinha. Abdica de sua própria vida. Enquanto o pai, é só a carga genética que ele compartilha. E ainda se vangloria, ó que fita!
Ir ao médico? Não quero. Não queria. Mas tô indo levar minha filha. E ouvir da medicina quais os remédios sintéticos que vou precisar comprar. Pensando no que eu realmente queria acessar: Os saberes dos meus ancestrais, que dominavam as magias, com plena ciência de que é da natureza que a cura vinha.
Mas a colonização extraiu muito mais do que ouro e pedrarias. Eles roubaram o que há de mais caro: o conhecimento ancestral de pretos e indígenas. A ciência que não está nos livros. A cura que mora em cada cantinho da floresta. Floresta essa que o branco derruba e se orgulha das pobres riquezas que ajunta na sua conta no banco nas Bahamas. Sua conta corrente não vai trazer ar puro e água limpa pra gente.
(Relato ao acaso de uma mãe quase descrente do mundo mas ciente de que a esperança é a última que morre; tá no corre).
_
Autora: Karina Rodrigues / @k4rodrigues





