Mulheres-mães protagonistas da própria história

POESIA | Vigília

Compartilhe esse artigo

De tudo quanto a razão pode
(e o que não!)
resumem-se:
85 nudes-embaçados,
32 poemas-rascunhos,
incontáveis mensagens não-enviadas
no WhatsApp.

Dois anos de terapia.
O por do sol numa
barca a deriva.
A sombra da grade
no corpo
exausto.

Os delírios começam
depois
das doses de gim,
das doses de beleza,
da sede antiga de f0der.

Dei a ele o nome
do meu gato,
do meu amigo invisível,
do logaritmo insistente no app de relacionamento.

Alegria
do supérfluo,
do inútil.
Pretexto para o delírio.

Animal sem dono,
sem eira nem beira.
Pelo menos isso eu tenho:
desejo agudo
misturado com um…
nem sei que espécie de angústia é
essa que me toma.

Os dedos que
giram o grelo,
dedos que
puxam a alegria sutil,
dedos.

Incapaz de um
gemido estridente.
Como afetar essa calma blasé?
O impulso é
gritar de fúria, é
puxar os cabelos, é
morder a fronha.

Tanta vontade de…
aquele
brilho no olho,
sorriso de canto de boca.

Nas mãos,
mariposas levantam voos.
A hora de levantar voo
coincide
com a poeira
que sustenta risadas traduzidas em
haha’s, hehe’s,
digitadas entre
uma interjeição e um parêntesis.

Se pudesse,
toda essa…
esse…
como chama?
falta a palavra agora.

Ao menos fosse
espectadora casual,
dessas que nem
conseguem manter
de pé
um advérbio de intensidade.
Mas isso nunca foi
uma hipótese.

Atenção!
as cores do semáforo,
talvez fosse uma sensatez.
Sensatez?
Tem.
Mas tá faltando.
Apesar da penumbra vibrante
ainda mais nítida!
Eu mesma
pintei cada detalhe
dessa paisagem,
natureza morta-viva.

Lexotan,
um dos meus contatinhos,
sempre ressurge
em dias chuvosos
com um
“Oi, sumida!”
Ignoro o clichê
e o cheiro de
chiclete de cereja.
Antes ele do que
a insônia.

Um calor insuportável
põe em farrapos
o triângulo e
o círculo da
minha geometria mundana.

Ainda resta uma fotografia
de um desconhecido renomado
na galeria do iPhone.

Dormir o sono das que
gozaram ao menos
duas vezes seguidas.

Destruir a expectativa
de um pós,
de uns prós.


Já vi esse filme.
O analista me diz
– é uma série.
Uma marcação que
não desbota até que
eu perceba e abandone.
Um pedaço de pano
sustentado pelo pó.

Mas o que é tudo?
– perguntei.
Em voz árida
respondeu:

Tudo é tudo,
oras.
Sem contestação.

Autora: Tatiane Sousa –  @tatisou.sa

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário