Sabe aquela frase, politicamente correta, que diz que somos todos iguais? Não é novidade que ela não corresponde à realidade, não é mesmo? Por que será que, então, ainda a reproduzimos?
Embora a gente saiba que somos muito diferentes uns dos outros, há quem acredite que não é bem isso que devemos ensinar às crianças. Pode até soar bonito declarar que, no fundo, não importa quem você é ou de onde você veio: somos todos iguais enquanto seres humanos. Na prática, porém, a teoria é outra!
A depender de quem você seja, das características que tenha, da cor da sua pele, de sua orientação sexual, de seu gênero ou mesmo de suas escolhas pessoais, isso te torna mais ou menos “compatível” com o padrão aceito e valorizado socialmente. E, por mais complexo que pareça, a percepção dessas diferenças se inicia bem cedo na nossa vida, já no período da primeira infância.
Estudiosos do desenvolvimento infantil mencionam que é por volta dos 15 a 18 meses de vida que os bebês começam a apresentar o início da autoconsciência. De 21 a 24 meses, essas crianças passam a expressar emoções como embaraço, orgulho e vergonha, demonstrando já reconhecer certos padrões sobre o que é esperado e sobre como devem agir.
Depois dos 2 anos de idade a criança tende a ficar mais ansiosa pela aprovação do adulto, vendo a resposta dele como sinal de que atingiu o padrão e atendeu ou não suas expectativas. Neste período de vida, ela também já começa a autoavaliar-se (sou bom? fiz certo?), inclusive comparando-se com outras pessoas que vivem ao seu redor.
Entre 5 e 7 anos, a criança já apresenta noção da própria competência intelectual e de sociabilidade e quanto mais avança em seu desenvolvimento, maior será sua percepção e autoavaliação sobre o quanto se aproxima ou não das expectativas familiares, escolares e sociais.
A ideia de que a criança tem um olhar “puro” e não percebe a diferença não corresponde à realidade. Ela tanto percebe que identifica em si mesma (e não apenas no outro) as características que se distanciam daquilo que é aprovado, aceito e valorizado.
Desde tenra idade a criança se percebe diferente e toda essa construção é permeada pelo olhar e expectativas do outro (especialmente adultos), pelas impressões que ela vai tendo de si mesma (autoconceito) a partir daquilo que dizemos a seu respeito (vai lá, você consegue!” x “você não faz nada direito!”) e dos olhares que lançamos de aprovação ou reprovação por seus comportamentos.
Já parou para pensar no impacto de suas frases, atitudes e comportamentos junto à sua criança? Que tal refletir sobre como colocar em prática diferentes oportunidades para que ela se sinta aceita e respeitada?
Fazemos isso não apenas verbalizando para a criança o quanto ela é especial, mas também quando apresentamos de forma natural a diversidade, mostrando diferentes modelos de famílias, lutando por representatividade, valorizando diferentes estéticas.
Naturalizar a diferença e celebrá-la é uma das formas mais bonitas e eficazes de ensinar a criança sobre amor e respeito. Certamente agindo assim, iremos contribuir para que elas desenvolvam autoestimas mais seguras e positivas e aprendam a reconhecer a diversidade como algo não apenas natural, mas também belo e que enriquece nossa experiência de vida.