— Hum… ele está olhando de volta. Que lindo… (e)
— Olhem para baixo. (a)
— Vai parecer que somos oferecidas. (nn)
— Por quê? (Anne)
— Olha o tamanho da nossa barriga. (a)
— É, não dá pra fingir que é de gula. (e)
— Só se for de outra coisa… (nn)
Anne segue a caminhada noturna mirando o chão.
— Não podemos mais fu… flertar? (nn)
— Ou só se interessar. Era tão bonito… (e)
— Quem vai querer uma barriguda? Nem conseguimos ver a própria vulva. (a)
— E nem estamos nos cuidando pra isso. (Anne)
— Vixi, nunca mais nos depilamos. (nn)
— Nem fomos à manicure. (e)
— Muito menos aparamos as pontas, ou fizemos as sobrancelhas. (nn)
— Sem falar que é promíscuo. (a)
— Ficar bonita? Transar? (nn)
— Sair sozinha, se oferecendo nesse estado. (a)
— Vão perguntar de quem é o bebê — diz Anne.
— E se é casada. (e)
— Mas a médica falou que seria bom namorar… (nn)
— Pois é, o esperma tem qualquer coisa que ajuda no trabalho de parto — disse Anne.
— Vamos pegar sífilis, isso sim. Ou coisa pior. (a)
Anne arregalou os olhos ao atravessar a faixa de pedestres. As vozes não davam trégua.
— Deixa de ser pessimista! (nn)
— Basta nos cuidarmos. (e)
— Tá, mas vai parecer muita carência. (a)
Anne sacou a chave do bolso e abriu o portão. Entrou.
— Precisaria comprar uma roupa. (e)
Correu os olhos pelas peças estendidas no varal da garagem.
— Uma que preste. Só temos legging e blusão. (Anne)
— E onde iríamos? (nn)
Cruzou a porta da sala, foi direto ao banheiro. Despiu-se. Ficou cara a cara com o espelho.
— Uiii!! (unânime)
— Magricela. (e)
— Peluda. (nn)
— Barriguda. (a)
Ligou o chuveiro. A água morna escorria.
— Precisamos dar um jeito nisso. (nn)
— Pra quê? (a)
— Por nós mesmas. (e)
— Vou marcar o salão. (Anne)
Talvez, quem sabe, o carinha do trabalho perca a timidez. (e)
— Ainda nisso? (a)
— Ah, ele gosta da gente. (nn)
— Pode até ser, mas não é louco de se envolver. (a)
— Ele tem jeito de ser nhami. (nn)
— Qual posição seria boa pra nós? (e)
— Será que cabe um pau ali? (nn)
— Tenho a impressão que nosso canal está mais curto. (Anne)
Fechou a torneira e tocou-se. Suspirou.
— Parece que está tudo aqui. (e)
Riu e começou a passar hidratante. Mas… e a barriga? (a)
Vestiu o pijama e desabou sentada no vaso sanitário. Chorou.
— Deixe-nos em paz, A! (e)
— Acho que nunca mais iremos namorar. (nn)
— Iremos nos sentir culpadas por se meter com qualquer um. (a)
— Chega! (Anne)
Passou a toalha no rosto.
— Parem. Talvez o carinha do trabalho nem nos queira. E, se sairmos, é capaz de não encontrarmos ninguém. (e)
— Muito animador. (nn)
Ligou o secador de cabelo.
— Vão achar que não amamos o bebê. (a)
— Credo, A… (e)
— Ou que somos piradas. (a)
— E não somos? (nn)
Secou os fios. Apagou a luz. Guiada pela claridade da noite, chegou até o quarto e enfiou-se debaixo das cobertas.
— Vão à merda! — disse Anne, fechando os olhos.
— Com o que iremos sonhar? (e)
— E podemos sonhar? (nn)
Silêncio.
Camilla Miranda Martins – @millarte108





