Eu Primeiro: Quando as palavras me conduzem

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Eu Primeiro: Quando as palavras me conduzem, Mariana Ferreira – @mariana.literal

“Eu primeiro”: quando escrever é sobreviver

Essa semana, li a seguinte frase: “Escolher escrever é rejeitar o silêncio”, de Chimamanda Ngozi Adichie. Nesse momento em que estou em carne viva, ter tido a coragem de escrever me salvou.

Escrever sempre foi o ato de fazer as pazes com encontros dolorosos — com a vergonha, com a infância. Ainda tenho anotado em um dos meus cadernos que queria ser escritora (escrevi isso pouco antes dos meus 18 anos). Essa persistência — e, principalmente, a amizade com as palavras — me salvou de um poço cuja profundidade eu nem sabia medir.

Foram elas, as palavras, que corajosamente escrevi em meio às lágrimas que sustentam a verdade de um dos fatos mais absurdos e doloridos da minha história. Foram elas que, durante anos, enxugaram minhas lágrimas em meio a abusos e soluções.

Imagine se a covardia tivesse vencido e meus relatos não tivessem se materializado nas folhas — o que seria de mim? Mesmo agora, depois dessa grande tragédia, se eu não tivesse as palavras para me acalmar, acalentar e trazer novas esperanças — o que seria de mim? Se eu não tivesse as palavras para sonhar com novos enredos, histórias, relatos e até amores — o que seria de mim?

As palavras (principalmente as escritas) me alimentam. É delas que vem meu sustento: as palavras impressas em livros escritos por muitas mãos. E, quem sabe, um dia desses, as palavras escritas por mim também me sustentem — não só emocionalmente, mas financeiramente.

Enquanto esse dia não chega, e enquanto não vivo só das minhas palavras escritas, agradeço por todas as vezes que elas foram minha voz. Mesmo quando roubaram minhas palavras e fizeram delas uma arma com a intenção de me fazer calar.

Roubaram minhas palavras e as usaram contra mim. Pegaram minhas preocupações mais íntimas e as transformaram em munição para me ofender. Humilhar. Zombar. Fizeram das minhas palavras provas descontextualizadas, moldadas para me desacreditar.

Inventaram histórias absurdas. Usaram termos como “insana”, “usuária de drogas”, “agressora” — palavras tão comuns e perigosamente repetidas em disputas de guarda, como se fôssemos personagens genéricas de um roteiro de destruição. E, junto delas, vieram os adjetivos cortantes: “vadia”, “vagabunda”, “promíscua”.

Palavras que não apenas ferem — elas bombardeiam nossa autoestima, destroem nossa saúde emocional e distorcem até a nossa imagem no espelho. Essas palavras ficam. Não se desfazem. Marcam como tatuagem na pele da memória.

Mas eu sou ousada. Eu uso as palavras. Elas são minha pele, minha defesa, minha memória.

Foi com elas que tatuei em mim: “eu primeiro”. E, embora essa frase possa soar como um mantra de autocuidado — é, na verdade, um eco de amor. Um amor puro, como diz a música.

Minha pequena, minha filha, dizia isso sempre que tinha um sorvete, uma brincadeira, algo que a deixava radiante: “eu primeiro!” Ela dizia sorrindo. Eu escuto até hoje.

“Eu primeiro” é para lembrar dela. E de mim. Para lembrar que podem até tentar me silenciar. Mas as palavras sempre me conduzirão.

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