Não estava em meus planos ser mãe, embora nunca tenha negado esse desejo dentro de mim. Sempre houve cobranças externas e, mesmo com apenas 22 anos, escutava de outras mulheres que eu já estava “velha demais” para ter filhos, que deveria acelerar. Quando me tornei mãe aos 31, os comentários não cessaram: “Já está na hora de encomendar o segundo, para o primeiro não ficar sozinho”, “Você vai envelhecer e quem vai cuidar de você?”. A maternidade é romantizada, mas sempre vem acompanhada de cobranças e projeções sobre nossa velhice em nossos filhos.
Meu maior medo, ao descobrir a gestação, não eram as contrações, o parto ou a cesárea, mas sim como seria minha vida sem rede de apoio. Eu só queria romper ciclos e criar minha filha num ambiente acolhedor, saudável, sem culpa nem julgamentos.
O que mais me marcou na reta final da gestação até o puerpério foi a ausência de uma mãe para cuidar de mim. Sentia falta de alguém que me protegesse das palavras maldosas sobre meu corpo, tanto na gravidez quanto no pós-parto, de ter sua presença em um momento tão especial. Infelizmente, isso me foi negado. Filhas de mães narcisistas conhecem bem esse vazio: assistir outras mulheres receberem carinho e apoio de suas mães enquanto eu guardava, em silêncio, as feridas deixadas por comentários cruéis sobre meu corpo.
A família paterna, em sua euforia, buscava semelhanças na bebê até com parentes distantes, como um tio que vive em outro país. Entre comparações e comentários, sobrava a frase cruel: que à mãe cabia apenas o ato de parir. Mas nem tudo foi difícil. Tive a alegria e o apoio da minha irmã mais velha, que esteve presente no ecocardiograma fetal, quando descobrimos o golf ball — um pequeno acúmulo de cálcio no coração de alguns bebês, que geralmente desaparece no terceiro trimestre. Naquele momento de medo, foi ela quem soube me acalmar. E, para nossa felicidade, o golf ball desapareceu, e minha filha nasceu com o coraçãozinho saudável.
Ser mãe me assustou. Tive que parar de trabalhar, pois muitas empresas dificultam a rotina de mães com filhos pequenos. Mas, nesse período, redescobri a mulher que ainda vive em mim: voltei a escrever, colocar em palavras tudo que queria ter dito em voz alta ao me silenciar por tempo demais. Aprendi que não devemos guardar para nós as dores e constrangimentos vividos; compartilhar é libertador e necessário.
Aprendi também a colocar limites. Algumas pessoas se afastaram, e isso trouxe uma paz inesperada. Descobri que nós, mães, precisamos estar cercadas de pessoas do bem, que nos apoiem e que cuidem de nossos filhos com carinho, formando uma verdadeira rede de apoio, não de julgamentos.
A maternidade me transformou profundamente, mas também me devolveu a mim mesma. Hoje me sinto mais forte, mais consciente e mais inteira, redescobrindo, a cada dia, a mulher que sou e a mãe que escolhi ser.
Por Marina Lopes – @htmldc





