oi nas noites em que eu acordava para amamentar, trocar uma fralda ou embalar que o silêncio falava mais alto.
Enquanto o mundo dormia, descansava de seus afazeres, a noite me embalava nos pensamentos mais profundos, daqueles que só uma mãe recém-parida pode compreender.
Eu era o alimento do meu filho.
Passava 24 horas por dia com ele: atenta, disponível, exausta.
E mesmo nas poucas horas em que estava longe, tentando fazer algo do mundo de antes – um trabalho, um café, uma conversa – o corpo não desligava.
O peito doía, o pensamento voltava, o tempo apertava.
A ausência também cansava.
Eu só queria poder dormir uma noite completa, sem interrupções.
Sim, era um desejo de amamentar — em livre demanda, até quando ele não quisesse mais.
Ou até quando nós dois percebêssemos que era hora de encerrar o ciclo.
Foram nove meses com muitos despertares.
Nove meses sendo acordada, sugada, pedida.
E eu sei: ele era só um bebê. Tão bonzinho, tão sorridente…
Mas mesmo assim, eu me sentia culpada por estar tão cansada.
Como podia me sentir assim?
Amamentar cansa.
Cansa muito.
Cansa o corpo — a coluna, os ombros.
Cansa a mente — que precisa estar alerta mesmo de madrugada.
Cansa a alma — que às vezes só queria deitar e esquecer que é responsável por alguém.
Mas ao mesmo tempo, como é bom saber que chegamos até os nove meses.
Nove meses de leite e de vínculo.
De peito dado não só com amor, mas também com esforço.
De noites longas e dias imensos.
Nove meses resistindo.
Amamentar é uma doação constante.
É o momento em que você literalmente se entrega:
pelo peito, pelo toque, pelo olhar, pela presença.
E ninguém te prepara para o cansaço de ser tudo para alguém.
O bebê mama e, enquanto isso, o mundo lá fora continua girando.
Mas aqui dentro, havia um silêncio denso. Um tempo suspenso.
Haviam dias em que eu só queria que alguém me dissesse:
“Você pode descansar agora.”
E que essa frase fosse verdadeira.
Mas então, entre mamadas, entre o sono e o choro, havia sua pequena mãozinha no meu rosto.
Havia sempre um sorriso.
E parecia dizer:
“Mamãe, você está fazendo o melhor que pode.”
Talvez eu estivesse mesmo.
Talvez seja isso:
seguir, mesmo cansada.
Oferecer, mesmo esgotada.
Amar, mesmo sem entender como.
E descobrir que, às vezes, amamentar é isso:
dar e se dar.
Perder o fôlego e reencontrar sentido.
Beni desmamou por conta própria aos nove meses.
Marcando um tempo mágico que guardaremos para sempre:
nos corpos, na mente e no coração
Por Mayara Izidoro de Almeida Luiz – @mayalmeidaluiz





