Crônica ordinária de uma mãe: edificando o desapego da culpa

Inbound4629957750812691199 Roberta Santiago 1024x576

Acho que minhas dores se fizeram tão profundas porque o processo de luto pelo qual passei foi realmente denso. Ter de me despedir da mãe que sonhei em ser para assumir a mãe que posso ser me custou muito — e ainda me custa.

Lembro de sonhar, durante a gestação do meu primeiro filho, com o quanto eu seria uma mãe incrível para aquele bebê que estava na minha barriga. Sempre lendo, estudando e buscando me conectar com ele de tantas formas.

Um idílico parto domiciliar que terminou em cesariana de urgência foi a primeira e mais simbólica quebra dessas expectativas. Deitada, com o útero costurado, tive que começar a ressignificar rapidamente tudo o que, até então, eu havia compreendido sobre a maternidade.

Mas era extremamente difícil. Durante os primeiros meses do meu filho, ainda tentei fazer com que nossa relação fosse aquela que eu idealizava. Só fui percebendo que a matemática não batia — e que eu não poderia dar mais do que tinha — quando comecei a adoecer. Foi nesse mesmo contexto que notei que ele não era o bebê que eu sonhei. Pude, enfim, abrir espaço para me vincular com quem ele era: um ser humano único, que transcende o meu imaginário.

A partir disso, não foi a intensidade do meu amor por ele que mudou, mas o despertar de um reconhecimento pelo meu amor próprio. Vi que maternar era sobre isso: permitir-me dançar entre as minhas necessidades e as dele, sabendo que às vezes elas se aproximam, às vezes se afastam — e assim segue a música. Enquanto isso, eu sigo aprendendo.

Por Roberta Santiago – @roberta___santiago

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