Coluna – O adolescente e a escolha da profissão

Javier Allegue Barros C7B ExXpOIE Unsplash

A escolha da carreira costuma ser o primeiro contato do jovem com a pressão para tomar decisões com impacto a longo prazo. Após a conclusão do ensino médio ou formação técnica, espera-se que o adolescente defina como será o resto da sua vida. Uma responsabilidade enorme para quem, muitas vezes, ainda está descobrindo a si mesmo.

A escolha da carreira costuma ser o primeiro contato do jovem com a pressão para tomar decisões com impacto a longo prazo. Após a conclusão do ensino médio ou formação técnica, espera-se que o adolescente defina como será o resto da sua vida. Uma responsabilidade enorme para quem, muitas vezes, ainda está descobrindo a si mesmo.

Além disso, na língua portuguesa, usamos o verbo “ser” para falar de carreira. Dizemos que alguém “é” a profissão que escolheu. Por exemplo, Luiza é médica, Julia é engenheira, Francisco é escritor, Beatriz é designer, e assim por diante. Em inglês, por exemplo, é utilizado um verbo, “to be”, que pode significar “ser” ou “estar” (tradução livre). A principal diferença entre “ser” e “estar” é a temporalidade, já que somente o primeiro carrega o conceito de eternidade. Ao utilizar o verbo “ser” para a profissão, esta é nominada como uma condição estável e imutável.

Com a maturidade, aprendi que nenhuma escolha precisa durar para sempre. Tomamos decisões todos os dias, que podem reafirmar as escolhas anteriores ou não. Até o momento, não encontrei nada que fosse realmente aderente à perenidade do verbo ser. Apesar de usarmos esse verbo para profissões, estados civis e sentimentos, tudo isso é mutável.

A realidade hoje apresenta a possibilidade de transição de carreira, inclusive para profissionais de sucesso. Ao longo do tempo, as pessoas mudam, bem como seus objetivos. Com o passar dos anos, não há necessidade de permanecer acorrentado às decisões tomadas ao atingir a maioridade. Eu, por exemplo, não sou mais a mesma pessoa de quando escolhi meu curso superior. Felizmente, não é necessário permanecer engessado em formas quando estas não nos servem mais.

Sendo assim, ao concluir a educação básica, o adolescente não precisa ser pressionado a definir todo seu futuro. Ao contrário, deve escolher o que vai fazer no ano seguinte. Ou, aproximadamente, nos cinco anos seguintes, se optar cursar faculdade. Delimitar o tempo reduz a pressão. Claro que todas as escolhas feitas têm impacto no futuro, mas não de forma definitiva. É somente uma das variáveis que vai influenciar o futuro. O amanhã não está escrito, nem mesmo após a escolha da profissão.

Autor

  • Marcia do Valle

    Márcia do Valle é mãe da Julia e da Clara, madrasta da Maria, feminista e carioca. Além de engenheira e mestra em administração de empresas, também  é autora dos livros "180 Graus" (Editora Marco Zero) e "Onde guardo as bobagens que eu contava só para você?" (Editora Adelante). Atualmente divulga seus textos no instagram @marciadovalleescritora.

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