Coluna – Nove meses passaram, e novembro chegou

Coluna – Nove meses passaram, e novembro chegou

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Novembro marca nove meses. Não do ano, mas do mês em que meu bebê estaria nascendo. Nove meses de uma gestação que não seguiu adiante. Eu sei que minha inteligência emocional e a de tantas outras pessoas diriam: “Esquece isso, não viva do passado ou do que não aconteceu”. Falar é muito mais fácil do que viver, especialmente quando vejo todas as grávidas que anunciaram a gestação há nove meses agora postando fotos e celebrando o nascimento. Seria mais simples se minha memória falhasse ao lembrar dessa data.

Ontem mesmo ouvi um podcast sobre o poder da mente, inteligência emocional, e que temos que sentir e mentalizar para que algo aconteça.

Eu sei que não sou a única no mundo exposta a essas frases e histórias de coaching, que afirmam que basta a nossa mente querer para conseguirmos o que desejamos. Na verdade, acredito em boa parte disso, mas sei que não é apenas com a força do pensamento que vou crescer no trabalho, ganhar na loteria ou ter um segundo filho. Até porque, se isso dependesse da minha mente, eu já teria não só o segundo, mas o terceiro filho. E nem vou entrar no assunto sobre crescimento profissional.

Sabemos que o mundo tem se tornado muito mais complicado do que antes. Guerras, políticas, pessoas inocentes e crianças morrendo, fenômenos da natureza cada vez mais intensos, sem mencionar o trauma da COVID. Tudo isso tem afetado o mundo, e lidar com o que passa na nossa cabeça diariamente é, sem dúvida, uma prática contínua e nem de longe tão fácil quanto parece.

Mas sabemos de tudo isso, e lutamos para viver um dia de cada vez. Tento todos os dias olhar para frente e seguir com o que tenho, com sonhos e propósitos.

Porém, com essa mesma frequência, me pergunto: quais são meus sonhos e qual é meu propósito? Afinal, já não tenho isso tão claro como antes. Já não sei mais no que sou boa ou ruim. Apesar de me sentir completa e feliz com a família que tenho e com um emprego que paga as contas, às vezes me perco por ainda não o classificar como o trabalho dos sonhos e nem de perto o que sempre imaginei para minha carreira.

Carreira. Já nem sei mais o rumo que tomou. O amor pelo jornalismo continua, apesar do diploma estar guardado. A paixão pela escrita também permanece, como você pode ver neste texto. Mas a linguagem e as circunstâncias mudaram. Moro em um país cuja língua ainda não domino totalmente. Sonho e penso em duas línguas, e já nem sei mais qual delas é minha preferida, embora saiba em qual melhor me comunico.

Mas, apesar de tudo, me sinto bem e feliz por ter um emprego que me ajuda a pagar as contas, possivelmente me permita poupar um pouco e me dê o prazer de viajar e me divertir com minha família.

Refletir sobre tudo isso não é algo que venho fazendo apenas nos últimos nove meses. Desde que me tornei mãe, meu propósito de vida mudou. Deixei de pensar tanto em mim e passei a cuidar de tudo para trazer segurança para minha filha. Esse amor dentro de mim, que transborda todos os dias, sente muita dor pelas duas perdas que tive. E, ao mesmo tempo que quero seguir em frente, não consigo deixar de lado meu desejo de ter outro filho.

E essa vontade de ser mãe mais uma vez talvez tenha ofuscado meus outros sonhos, os quais eu já nem sei mais quais são. Apesar de minha inteligência emocional não estar totalmente adaptada aos coachings, e mesmo lidando com essa dor e com meus sentimentos de incerteza, sigo em frente. Procuro meus sonhos, busco meu propósito e deixo as coisas acontecerem no seu tempo, mesmo que esse tempo não esteja alinhado com o que desejo no momento.

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