Coluna – Nos bastidores, seguimos

Captura De Tela 2025 11 01 130417

“Descansa no Senhor” — é o que dizem.

Mas e quando o descanso do corpo é mais urgente que o da alma?

A fé nos traz força, é verdade — e também o merecido descanso da alma.

A leveza consola o coração que sangra, cansado de tentar prover, de insistir em alcançar o que, às vezes, nem está ao nosso alcance.

Quando esse descanso vem, algo sublime acontece: o celeste invade o espaço, muda o ar, nos eleva.

Mas me pergunto: mãe descansa?

“Busquem o equilíbrio”, dizem — o tempo todo.

Como se fosse possível…

Na hora em que a mãe preta pensa “tudo encaminhado”, o mundo faz um pacto silencioso e nos desmonta.

Como assim, ela no topo?

Não, vamos mudar as regras.

E, de repente, o castelo desmorona — junto com o sonho, o desejo, a vontade.

É nesse ponto que a verdade se impõe: nem sempre persistir nos faz chegar.

As oportunidades não caem do céu — principalmente para mães.

E, que dirá, para mães pretas, que precisam cavar com as próprias mãos o que, para outros, já vem pronto.

O caminho é torto, lento, cheio de desvios que testam a fé e esgotam o corpo.

Mas mãe tem algo tão vivo e tão forte que pulsa aqui dentro.

E esse algo faz a gente ressurgir.

Resistir.

Os filhos fazem isso com a gente — por isso, às vezes, desistimos de nós para não desistirmos deles.

Outro dia, refletindo sobre tanta coisa, percebi: os filhos não esperam tanto sacrifício. Eles só querem que a gente seja feliz.

E dizem isso nas entrelinhas:

“Mãe, senta aqui comigo.”

“Mãe, que comida gostosa!”

“Mãe, como você está bonita.”

Ou o mais simples — e o mais difícil de atender:

“Mãe, descansa um pouco.”

É nesse convite singelo, nesse gesto pequeno, que mora a força que sustenta tudo.

Porque os detalhes dos bastidores, aqueles que passam despercebidos, são os que revitalizam aquilo que, por instantes, quase leva a mãe para o buraco.

A fé move montanhas, é verdade. Mas as ações configuram a luta — e essa luta é diária.

A sociedade insiste em acreditar que a mulher preta é incansável, como se não sentisse dor, exaustão ou limite. “Ela dá conta!”

Mas nós cansamos.

E, mesmo cansadas, seguimos — porque quase sempre nos tratam como se descansar fosse um luxo que não nos pertence.

E ainda assim, esperam que a gente sorria. Que sejamos gentis. E gratas.

Mas, no fundo — bem no fundo — a gente sabe: o sorriso também é arma; a gentileza, escudo; e a gratidão, ponte.

E mesmo quando mudam as regras do jogo, seguimos.

Não porque tudo está bem, mas porque aprendemos a ser nosso próprio recomeço.

Autor

  • Natalia Maria Souza Veloso

    Oiê! Sou Natália Maria Souza Veloso, ou simplesmente Net Veloso.
    Professora há quase 20 anos. Magistério, Letras e Pedagogia. Pós-graduação, mestrado e doutorado em maternidade, rs. Contadora de histórias nas horas vagas! Casada, mãe de 3. Mãe preta de 3. Passei por 4 gestações. Sonhadora! Acredito no fantástico poder da escrita! Ela me libertou! Que minhas linhas atinjam corações; que sejam acalento e coragem; resistência e luz! E que tais linhas tornem- se laços de apoio e que a representatividade se faça viva! Instagram: @netveloso

Deixe um comentário

Rolar para cima
0

Subtotal