“Descansa no Senhor” — é o que dizem.
Mas e quando o descanso do corpo é mais urgente que o da alma?
A fé nos traz força, é verdade — e também o merecido descanso da alma.
A leveza consola o coração que sangra, cansado de tentar prover, de insistir em alcançar o que, às vezes, nem está ao nosso alcance.
Quando esse descanso vem, algo sublime acontece: o celeste invade o espaço, muda o ar, nos eleva.
Mas me pergunto: mãe descansa?
“Busquem o equilíbrio”, dizem — o tempo todo.
Como se fosse possível…
Na hora em que a mãe preta pensa “tudo encaminhado”, o mundo faz um pacto silencioso e nos desmonta.
Como assim, ela no topo?
Não, vamos mudar as regras.
E, de repente, o castelo desmorona — junto com o sonho, o desejo, a vontade.
É nesse ponto que a verdade se impõe: nem sempre persistir nos faz chegar.
As oportunidades não caem do céu — principalmente para mães.
E, que dirá, para mães pretas, que precisam cavar com as próprias mãos o que, para outros, já vem pronto.
O caminho é torto, lento, cheio de desvios que testam a fé e esgotam o corpo.
Mas mãe tem algo tão vivo e tão forte que pulsa aqui dentro.
E esse algo faz a gente ressurgir.
Resistir.
Os filhos fazem isso com a gente — por isso, às vezes, desistimos de nós para não desistirmos deles.
Outro dia, refletindo sobre tanta coisa, percebi: os filhos não esperam tanto sacrifício. Eles só querem que a gente seja feliz.
E dizem isso nas entrelinhas:
“Mãe, senta aqui comigo.”
“Mãe, que comida gostosa!”
“Mãe, como você está bonita.”
Ou o mais simples — e o mais difícil de atender:
“Mãe, descansa um pouco.”
É nesse convite singelo, nesse gesto pequeno, que mora a força que sustenta tudo.
Porque os detalhes dos bastidores, aqueles que passam despercebidos, são os que revitalizam aquilo que, por instantes, quase leva a mãe para o buraco.
A fé move montanhas, é verdade. Mas as ações configuram a luta — e essa luta é diária.
A sociedade insiste em acreditar que a mulher preta é incansável, como se não sentisse dor, exaustão ou limite. “Ela dá conta!”
Mas nós cansamos.
E, mesmo cansadas, seguimos — porque quase sempre nos tratam como se descansar fosse um luxo que não nos pertence.
E ainda assim, esperam que a gente sorria. Que sejamos gentis. E gratas.
Mas, no fundo — bem no fundo — a gente sabe: o sorriso também é arma; a gentileza, escudo; e a gratidão, ponte.
E mesmo quando mudam as regras do jogo, seguimos.
Não porque tudo está bem, mas porque aprendemos a ser nosso próprio recomeço.





