Já passava da meia-noite quando ele se apresentou ao mundo após 18 horas de trabalho de parto. A onda de alívio dividia espaço com a tensão do momento: “O que eu faço agora?”
Depois de alguns minutos, ele foi entregue em meu colo. Enquanto a enfermeira me orientava sobre aquela nova realidade, ele parecia ter mais noção do que deveria fazer do que eu. E de repente ouvi o comentário: “Que sucção perfeita, vocês estão de parabéns!” E essa foi a primeira vez que amamentei meu bebê.
Na construção de uma mãe que acabara de nascer, lembrava da minha própria mãe amamentando meu irmão até os 6 anos de idade. Eu dizia a mim mesma que nunca amamentaria um filho, pois bebês amamentados no seio ficavam muito dependentes da mãe. E eu queria que meu filho tivesse autonomia. Hoje essa conclusão me soa ridícula, mas fazia sentido naquela época.
Eu rejeitei o peito ainda recém-nascida e cresci independente. Aprendi a me virar sozinha e não tinha um laço forte com minha mãe. Já meu irmão foi o contrário.
Agora, ali estava eu, com aquele bebê que nasceu com um reflexo de sucção perfeito, sendo fonte de vida dele. Ouvia relatos em toda parte sobre como a amamentação é difícil, dolorosa e que às vezes se torna inviável. Para mim não foi, que ironia. Nada de bico rachado, leite empedrado ou pouco leite. Só nós dois no silêncio das manhãs aproveitando o sol através da janela.
E assim foram quase 3 anos. Os palpites, as cobranças e críticas por amamentar uma criança que comia bem, falava tudo e já estava na creche não me incomodavam nenhum um pouco. Eu queria que esse processo acontecesse naturalmente. Porém, não aconteceu.
Eu já não dava conta de trabalhar, estudar e passar as madrugadas amamentando. A falta de noites bem dormidas começou a me adoecer e eu sabia que não poderia mais adiar esse processo. Não foi leve, nem bonito. Foi doloroso. Mas, foi necessário.
Na hora do sono, o pai acolhia o choro do bebê em um cômodo enquanto eu chorava em outro. Dia após dia, muitas noites assim. Também teve muita conversa, muitas cantigas de ninar e muitas lágrimas.
Me senti frustrada e com inveja daquela mãe que eu criticava, que amamentou seu filho até os 6 anos. E ali eu entendi que não era dependência, era vínculo…era amor. Era a coisa mais bonita que experienciei na vida.
Mas como toda fase, passa. E passou. Ele compreendeu. Eu aceitei. E juntos construímos um laço inquebrável.
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Autora: Laiza Candido / @laizacandido





