No dia 03 de dezembro, foi celebrado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, a discussão sobre acessibilidade cultural ganha ainda mais relevância. Embora o acesso à cultura seja um direito garantido por lei no Brasil, museus e espaços culturais ainda enfrentam obstáculos estruturais e comunicacionais que limitam a participação plena de pessoas com deficiência.
A consultora em acessibilidade cultural Marina Baffini, que atua há mais de uma década em projetos de inclusão em museus e instituições culturais pelo país, afirma que o cenário brasileiro evoluiu, mas ainda está distante do ideal.”Acessibilidade não é um aditivo, é parte da experiência cultural. Sem ela, parte da população continua excluída do direito básico de acessar, compreender e vivenciar a arte e a história”, destaca Marina.
Acessibilidade além da rampa
Marina explica que ainda há uma ideia equivocada de que acessibilidade se resume a rampas e elevadores. Para ela, a acessibilidade cultural envolve uma série de dimensões:
- acessibilidade física,
- recursos comunicacionais,
- mediação adequada,
- tecnologias assistivas,
- conteúdos acessíveis em múltiplos formatos,
- e participação ativa das pessoas com deficiência no processo de criação e validação.
“Uma exposição só é verdadeiramente acessível quando a pessoa consegue vivenciar o conteúdo por múltiplos caminhos. A audiodescrição, as maquetes táteis, os textos simplificados, a interpretação em Libras e o desenho universal são recursos que transformam o público, não apenas o espaço”, explica.
Desafios ainda presentes
Segundo Marina, os principais obstáculos para a implementação de acessibilidade em museus são:
- falta de profissionais especializados;
- ausência de planejamento desde o início dos projetos;
- investimentos irregulares;
- e desconhecimento por parte das gestões culturais.
“Ainda é comum que a acessibilidade seja pensada apenas após a exposição pronta, como um complemento. Isso torna o processo mais caro e menos eficiente. A inclusão precisa entrar na fase de concepção”, afirma.
Marina observa que o público com deficiência está cada vez mais organizado e exigindo seus direitos. A pressão social e a ampliação dos debates sobre inclusão têm impulsionado alguns avanços importantes nos últimos anos.
“Quando um museu ou centro cultural se torna mais acessível, ele não só elimina barreiras para quem tem deficiência, mas também melhora a experiência de todos. A cultura é mais rica quando todos conseguem participar”, diz.
03/12 como oportunidade de mudança
Para a especialista, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência é uma oportunidade para que instituições culturais reflitam sobre seu papel na construção de cidades mais inclusivas. “Esta data precisa deixar de ser apenas simbólica. É o momento para que espaços e instituições revisem seus processos, avaliem suas fragilidades e assumam o compromisso de oferecer experiências verdadeiramente acessíveis ao público”, destaca Marina.
Sobre Marina Baffini
Marina Baffini é consultora de acessibilidade cultural, com atuação em museus, centros culturais e espaços expositivos em todo o Brasil. Trabalha há mais de 10 anos na criação, validação e implementação de recursos de acessibilidade física e comunicacional, com foco em desenho universal e inclusão de públicos diversos.





