A redescoberta de mim: lidando com a mulher e a mãe

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Antes de ser mãe eu achava estranho ver descrições nas redes sociais em que as pessoas se intitulavam mãe. Mãe do João, do Téo, da Ananda. Mãe de dois. Mãe de anjo. Eu me perguntava por que se denominavam dessa maneira. Era algo que não fazia sentido para mim, porque até então eu não sabia o que era se tornar mãe. Não sabia que passamos a viver uma nova vida, que a mãe renasce quando é parida, que nos tornamos outra mulher no processo de criar um novo ser humano.

Hoje eu sei. Depois de atravessar o luto da vida antiga. Depois de aprender sobre rotina, janela de sono e fezes saudáveis. Depois de cantar para ninar, de descabelar para ninar, de não dar conta de ninar e aprender, na marra, a pedir apoio.

Hoje eu sei que quando viramos mãe nos tornamos outra. Alguém mais bicho, porque uma parte instintiva se acentua em nós. Um misto de bruxa e fada, aprendendo a sanar feridas, desenvolvendo colos de reconforto, com um olhar que enxerga o filho e a panela, o cachorro na rua e a cria, a lua, a lista do mercado, o menino que novamente saiu correndo.

A mulher mãe deveria ser heroína, se não nos sentíssemos tão falhas com nossos buracos, ausências, descuidos e defeitos, como qualquer ser humano. A diferença é lidar com mais uma culpa por não ter dado conta de algo que, no conjunto da vida, talvez nem tenha sido tão ruim assim. Mas a gente acredita que foi e sofre. Sofre muito. A mulher mãe sofre por não conseguir oferecer tudo o que gostaria à sua cria. Esquece que limites são importantes, que nossos filhos precisam aprender a lidar com frustrações. Mas a mulher mãe deseja ser Mulher Maravilha. Coloca o filho na frente. A máscara de oxigênio precisa cair centenas de vezes até aprendermos a regra de nos cuidar primeiro, se é que isso realmente é possível.

Talvez algo que comprove essa mudança seja perceber nosso olhar e nossa postura em situações semelhantes às de antes. Ou nos mesmos cenários, mas agora nos sentindo e nos comportando de maneira totalmente diferente. Isso pode gerar dissonância, surpresa, curiosidade. É o abismo entre quem fomos e quem somos. Para mim, ao viver isso, percebi que coisas que antes pareciam o fim dos tempos passaram a ser como pequenas abelhas que fazem zum-zum-zum, mas não picam. Situações em que eu era mais amena já não fazem mais sentido. A maternidade me exigiu firmeza e assertividade. É uma mudança de quem somos, de como vivemos e de como queremos viver. Talvez por isso seja tão difícil explicar para quem pensa em ser mãe o que significa ter um filho.

Um filho nos faz enxergar além de muitas das nossas perspectivas, inclusive daquelas que considerávamos fundamentais. Abala certezas, derruba muros, nos faz rever convicções.

A vida nova que geramos revela necessidades de adaptação. E criança é vida nova o tempo todo. Há sempre uma surpresa acontecendo, um dente que chega com tudo, um jeito de sorrir com uma curiosidade inédita, uma palavra nova dita de forma fofa e desengonçada, um cheiro gostoso de cangote ou um cocô bomba e mais uma fralda suja. Situações que surgem no inesperado da vida em companhia. E filho é companhia certa.

Uma nova mulher surge ao lado da sua cria. Busca conciliar demandas que chegam como enxurradas que, assim como as novidades das crianças, não param de acontecer. Tornar-se mãe é tornar-se alguém que ainda estamos conhecendo. Continuamos nos tornando outra e outra com o passar do tempo, provando que a vida é sempre uma descoberta, uma cortina que se abre para novos cenários e espetáculos dos quais fazemos parte. Uma jornada intensa de autorrevelação e redescobertas.

Por Bruna Regina Souza – @brunareginapsi

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