O relacionamento não era bom.
Ele tinha o sonho de ser pai, e o meu nunca foi ser mãe.
Mas veja só, me entenda: resolvi viver o sonho dele e não é que eu não queria, eu queria, eu quero, eu amo ser mãe, eu só não queria naquele momento.
Engravidei.
Gestação difícil.
Hiperemese.
Pandemia.
Problemas cotidianos e agora uma gravidez.
A bebê nasceu: linda e saudável, mas, ainda na sala de parto, ele disse:
– Ela é feia!
Não ouvi. Estava anestesiada demais com os remédios e também com a emoção do nascimento, mas me contaram depois.
Vi meu amor.
Segurei ela nos braços.
E, ainda no hospital, ele resolve me tratar mal porque eu não conseguia amamentar.
Doeu.
Reprimi o que senti.
Tudo parecia bem até que ele ficou diferente, sem paciência.
Eu acordava de madrugada e cadê ele?
Não sei. Ele não estava bem e eu tinha que aguentar e aguentei até que ele se foi.
Foi embora e não ligava. Não perguntava por ela.
Eu fiquei, eu aguentei. Como? Realmente eu não sei. De onde veio a força? Dela? Ou a força era minha mesmo? Talvez.
Eu aguentei e superei.
Sozinha? Não. Sem ele.
O sonho era dele, mas estou vivendo só.
Só não. Com ela.
Um dia após o outro.
Um problema de cada vez.
Não é fácil, mas ser frágil, no momento, não é uma opção.
Há dias que eu desabo? Muitos. E é nesse momento que eu tenho quem segure minha mão.
Cada dia fica melhor? Não. Tem dias que o sol não aparece mas em outros ele brilha como nunca e assim seguimos. Não na busca pelo sol permanente, mas sim em busca de enxergar a beleza dos dias nublados.
Meu lar somos nós duas.
Na mesa tem só um copo e uma mamadeira e no meu coração tem ela.
Mudaria algo? Talvez.
Nunca saberei.
O que eu sei, de verdade, é que viver o sonho dele me quebrou, mas também me reconstruiu. Tenho ela e ela tem a mim. Por enquanto, basta.
Basta, não. Transborda!
Por: Larissa de Araújo – Instagram: @laarydearaujo.