Mulheres-mães protagonistas da própria história

Culpa da mãe solo

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Hoje a exaustão da maternidade solo bateu por aqui; bateu e ricocheteou com culpa.

Acordei assustada. Estava de costas para o bebê. O que aconteceu? Me virei, ela estava ao meu lado, dormindo lindamente, de bruços! De bruços?! Meu Deus! O que aconteceu? Ela começou a chorar. Prontamente ofereci leite. O que aconteceu? Por que estou tão cansada e sonolenta se ela só acordou 1 vez essa noite?

A cria dormiu logo e eu fui ao banheiro, me deparei com 4 fraldas que foram trocadas durante a madrugada. Quem trocou essa criança, meu Deus? O que aconteceu? O pai dela é que não foi. Fui eu! Em que momento? Com que força? Meu Deus, o que aconteceu?

Aconteceu que a culpa chegou. E se eu tivesse me virado sobre a cria? E se ela sofresse de m0rte súbita? E se nessas trocas sonâmbulas eu tivesse derrubado a cria? Prometi começar a dormir durante o dia, enquanto ela dorme.

Aconteceu que essa tarde ela não dormiu. Por algum motivo ela chorou desesperadamente por cerca de duas horas. Além de não dormir, eu não me perdoei. Talvez ela esteja sofrendo com cólica – culpa minha que comi carne ontem a noite. Talvez ela esteja sofrendo com assadura – culpa minha que não percebi antes, quando ainda estava apenas vermelho. Talvez esteja com fome ou muito cheia – culpa minha que não soube dar o peito na pega correta. Talvez esteja sentindo a minha dor, preocupação e mágoa – culpa minha que me envolvi tão profundamente com alguém que eu conhecia tão pouco.

Duas horas e deu tempo de achar várias culpas pra me colocar. Não chorei, dessa vez! Prometi não chorar na frente da cria mas também por isso não me perdoei. Talvez essa dor na lombar, esse repuxo no ciático e esse peso nos ombros seja tanta culpa que tenho carregado. Espero um dia, não distante, me perdoar e nos libertar.

E quando eu digo NOS perdoar, não me refiro apenas a mim e a minha cria, porque essa não é uma história isolada – é uma história que se repete. São muitas mulheres que vivem, viveram e viverão (espero que não) o que eu tô passando agora. E quando eu me perdoar, eu perdoo também um pouquinho a cada uma.

E agora, eu tô contando isso aqui pra deixar registrado que eu me culpo, mas não é intencional. Eu me culpo por me culpar, sabendo que a culpa não é minha. Mas me comprometo em lutar para essa(s) história(s) mudar(em).


Autora: Mariana Roiek Moreira – Instagram @maari.daterra

Revisado por Luiza Gandini.

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