Quando nasce um filho, nasce uma mãe — e, com ela, uma enxurrada de perguntas, culpas, medos e um novo @. O Instagram, que antes era só um lugar para fotos bonitas, virou diário, abrigo, palco e espelho.
Em 2010, na minha primeira gestação, ainda não existia essa urgência de compartilhar. Mas, na segunda, tudo mudou. Maternar virou também postar. O celular na mão se tornou extensão do meu olhar de mãe e o feed começou a guardar não só fotos, mas vivências, dores, descobertas e vitórias.
Sou Isabella Stutz — mãe, jornalista, comunicadora e criadora do Papo em Família. Escrevo não apenas com palavras, mas com meu compartilhar, com a memória, o afeto e a escuta de tantas outras que encontrei nessa estrada. Porque escrever, para nós mães, é também sobreviver.
As redes sociais nos colocam em um lugar ambíguo: ao mesmo tempo que aproximam, também comparam, expõem e ferem. A imagem da mãe perfeita, que dá conta de tudo e ainda aparece maquiada com a casa em ordem, é uma mentira vendida em parcelas, com legenda bonitinha e publi camuflada. Mas aqui comigo não tem filtro que disfarce o cansaço, nem legenda que oculte a verdade: maternar é desorganizar-se inteira para aprender a recomeçar todo dia.
O Papo em Família nasceu no meu Instagram em 2018. Comecei dividindo minha rotina, dicas e dúvidas, até virar ponto de encontro. Uma rede de apoio virtual que cresce, mas permanece íntima. Porque o que quero é mais que números. Quero conversas, olho no olho mesmo que virtual, abraço em comentários, troca de histórias.
Cada mãe que chega traz um pouco de si — e eu devolvo com aquilo que sei e vivo. Já fui salva por uma dica simples numa DM e também já enviei um áudio que acalmou um choro do outro lado da tela. A internet tem disso: é ferramenta, mas também é ponte.
Falar de maternidade nas redes é entender que nem tudo é doce. Existe cobrança, julgamento, crítica. Ser mãe na internet é dividir, mas também proteger. Não expor tudo, não entregar tudo, cuidar da família para além do algoritmo. E, mesmo com todo cuidado, vez ou outra o peso chega: “Você posta demais”, “Você não mostra o suficiente”, “Por que seu filho não aparece mais?”, “Por que ele aparece tanto?”. Somos sempre julgadas, com ou sem rede.
E a verdade é que ser influenciadora materna é também um trabalho. Um trabalho que mistura amor com planejamento, espontaneidade com estratégia, afeto com algoritmo. Tudo precisa ser pensado com carinho — não porque quero parecer perfeita, mas porque quero ser útil, real e respeitosa.
Durante esses anos, vi o Instagram mudar. Vi mães virarem marcas, filhos virarem conteúdo. E vi também muita coisa bonita: mães se ajudando, aprendendo umas com as outras, ganhando renda, conquistando espaço. O que antes era conversa de portão, hoje é live, post, comentário, inbox. Mas continua sendo rede. E, como toda rede, pode amparar ou prejudicar. Depende de como se usa.
Eu escolhi usar para acolher. Para dizer que está tudo bem se você chorou hoje. Está tudo bem se você não deu conta. Está tudo bem se cansou. O que não está bem é fingir que está tudo perfeito só para caber na estética do feed.
Maternidade é atravessamento. É política, é economia, é identidade. E quando essa maternidade vira conteúdo, vira também responsabilidade. A cada dica que dou, penso: será que isso acolhe ou machuca? Será que estou romantizando ou humanizando? Porque não quero ser só mais uma voz dizendo o que fazer. Quero ser alguém que caminhe junto, mesmo que em silêncio.
E sei que esse espaço que ocupo não é meu por direito eterno. A rede é emprestada, o palco é instável. O algoritmo muda, os seguidores vão e vêm, mas o que fica é a escuta. É a mulher que, do outro lado, se sente menos só. É a mãe que respira aliviada por saber que tem alguém vivendo algo parecido.
Já ouvi que “mãe não vende”, que “mãe não compra pra ela”. Pois saibam: mães são potência. São formadoras de opinião, são força de consumo, são líderes de comunidades inteiras. Estão revolucionando o mercado, a comunicação, a forma de criar filhos e conteúdo. E estão fazendo isso com empatia, com vulnerabilidade e verdade.
Mas também é preciso alertar. Tem risco, sim. Tem exposição, tem roubo de imagem, tem julgamento, tem o preço de estar presente demais. Por isso falo da importância de proteger, filtrar, pensar. O que você quer associar ao seu nome? Que marcas quer apoiar? Que ideias quer disseminar?
A maternidade nas redes é um campo fértil, mas exige raiz firme. Não é só sobre ganhar seguidores ou fazer vídeos virais. É sobre saber quem se é, o que se quer e como se quer impactar o outro. Eu sigo escolhendo o caminho do afeto, da partilha e da escuta.
E se você, mãe, está aí do outro lado pensando em começar, te digo: venha com verdade. Venha com limites. Venha sabendo que não é fácil, mas pode ser bonito. Venha para somar, para aprender e para ensinar.
Minha maior lição nesses anos todos foi essa: o que transforma não são os likes, mas os laços. É na conversa real, na troca sincera, na escrita que nasce da vivência, que a gente constrói algo que permanece.
Porque, no fim, o que importa não é o @, é o abraço que ele pode ser.
Essas vivências foram parte do capítulo do livro Mulheres de Sucesso 2.
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Autora: Isabella Stutz – @papoemfamilia





