Constantemente vemos relatos de como o isolamento social, durante o período de pandemia, vem afetando o cotidiano das famílias, e para nós, mães atípicas, o isolamento sempre existiu. Porém, o medo nunca nos assombrou tanto – medo da morte, medo de não dar conta.
O trabalho triplicou, além dos afazeres diários, nos tornamos professoras e terapeutas exclusivas de nossos filhos, não que não já façamos também este papel, mas as aulas e terapias on line não nos contemplam, não nos contemplam de forma justa e inclusiva, tornando-se então, consultorias e desabafos para nós mães que já nos anulamos tanto…
Cansadas fisicamente, emocionalmente, tendo que lidar com uma montanha russa de emoções diariamente, entre crises, troca de fraldas, medicações, gritos, choro. Mil malabarismos para entreter e ensinar algo, buscando e adaptando. Então, fica a dúvida:
Como acalmar uma criança confinada que sequer consegue usar uma máscara? Como acalmar alguém quando nós também estamos apavoradas?
Sobrecarga. Frustração. Culpa. Noites sem dormir. As notícias não param, o medo só cresce. Chega a ser desumano não encontrar uma rede de apoio.
A saída que encontrei foi esquecer o mundo lá fora, viver um dia por vez. Foram muitas perdas na evolução, mas também muitos ganhos. Aumentamos a conexão entre nós, damos mais valor aos detalhes. Tentamos respirar diante do caos. Não temos escolha é a lei da sobrevivência.
Se fala agora em volta as aulas, como enviar uma criança a escola quando ela não consegue dar conta de si mesma? A sociedade não estava pronta para uma pandemia, assim como não está pronta para nossos filhos. Inclusão não é favor.
Mais uma vez esquecidos pelas políticas públicas, romantizados pela sociedade, invisíveis.
Até quando?
Autora: Priscilla Ramone C. Paiva, mãe solo de um autista de 5 anos.