Quando recebi o convite da @revista_maes_que_escrevem para falar sobre Mães Narcisistas, fiquei extremamente feliz e agradecida, mas logo pensei na responsabilidade que seria realizar tal tarefa. Como disse no texto anterior (leia aqui), tema denso e extenso que, ao meu ver, exige um trabalho cuidadoso e atento. Por conta disso, pensamos no formato de série e não um texto único, como forma de realizarmos com seriedade e compromisso algo relevante.
Ao me aprofundar sobre o tema, encontrei inúmeros materiais nos mais diversos veículos de comunicação e nas mais variadas linguagens, todos na busca de uma possível compreensão sobre o assunto e, principalmente, no fornecimento de informações para xs filhxs das mães narcisistas. Encontrei grande quantidade de produções escritas e audiovisuais que facilitam pensarmos o diagnóstico e dão ferramentas (ações) para lidarmos com tal situação.
Muitos desses tratam o assunto de forma pessoal e afetiva, ou seja, pessoas que passam pela situação e compartilham suas experiências. Outros, já carregam uma linguagem mais teórica/técnica, mas permanecem num campo superficial, não dando a real profundidade que o assunto necessita.
Porém, pouco vi produções acadêmicas brasileiras e literatura específica sobre o tema. Tendo isso, parei para pensar na vulnerabilidade da qualidade das informações passadas e distribuídas à quem procura, porque quando se trata de algo tão sério, há riscos que precisam ser notados e evitados.
Quando falamos sobre Mães Narcisistas, falamos de saúde mental. Estamos falando de uma relação materna que é diretamente e profundamente abalada e disfuncional por conta de uma patologia vivenciada pela mãe. Iremos falar mais detalhadamente sobre isso nos próximos textos, mas por enquanto vamos pensar em outros aspectos importantes como a nossa dificuldade em nos depararmos e compreendermos a patologia mental.
Enquanto estamos tão acostumados com a doença que afeta o corpo, as maneiras de diagnóstico, as formas de tratamento, o que se deve fazer e quem procurar, por qual motivo resolvemos ignorar as doenças que afetam a mente?
Demoramos anos para começar a quebrar paradigmas que envolvem a depressão, por exemplo. Pela falta de conhecimento produzido e adquirido, inúmeras pessoas sofreram/sofrem intensamente, responsabilizadas e culpadas por suas dores.
É nosso papel, enquanto sociedade, buscarmos nos educar e assim nos colocarmos flexíveis ao que o conhecimento nos traz. Sendo assim, devemos investir no que diz respeito à saúde mental, pois é ela a grande base do que somos e do que podemos ser. Não estar aberto ao questionamento que tudo isso promove, é fechar os olhos e ignorar nossa própria vida e nossa evolução.
Com o desenvolvimento tecnológico e o crescimento das mídias sociais, criou-se um campo onde é mais fácil o compartilhamento. Assim, muitos daqueles que sofriam sozinhos, conseguem meios onde se expressam e encontram pares que se identificam.
Dessa forma, xs filhxs de Mães Narcisistas construíram formas de se expressar, ajudar e acolher uns aos outros. Acho incrível como essas coisas acontecem e dou muito valor aos encontros, mas também me atento ao risco da patologização e generalização quando se trata da identificação de um sofrimento. O caminho da saúde mental não é fácil, rápido e simples. Um diagnóstico não se dá sem conhecimento específico e não adianta fazê-lo e não saber como lidar com este enquadramento, certo?
O meu chamado é para notarmos nossas dificuldades em olharmos com consciência para o que se fala de saúde mental, buscando o aprendizado e conhecimento de qualidade. A partir disso conseguimos criar uma rede de apoio para todos os seres que aqui vivem, nas dores e desajustes da vida.
Mães Narcisistas sofrem com uma patologia que afeta filhxs e família, deixando marcas nos vínculos adoecidos e gerando consequências extremamente doloridas naqueles que passam por essa situação. Ser filhx de uma mãe narcisista é viver a relação primal de forma intensa e abusiva.
Enquanto falarmos de sofrimento psíquico, não há como não buscar seriedade, cuidado e atenção.
Pelxs filhxs, mães, vínculos e pela sociedade, vamos juntos nesse caminho de desconstruções, acolhimento e saúde?
Nos encontramos segunda que vem!