Folhas Brancas

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Uma folha em branco, repleta de marcas escritas a mão, com letras cursivas, forma e impressa.

As mãos que não sabem escrever, ler ou interpretar, são simplesmente copistas.

Ao olhar para esta folha, percebo que ela está vazia, dispersa em várias linhas.

Ela só absorve o que escrevem, ela não tem mãos que sabem escrever.

Folha em branco, não imagina o valor e a serventia que tem.

Testemunha ocular, nela pode conter sentença, confissão, verdade, amor, explicações, ensinos, sabedoria.

Pobre coitada podem deitar nela através da escrita, mentiras, dúvidas, ódio, raiva, distorções, injustiça, medo, rancor, delírios.

Folha em branco, refém das mãos, do texto impresso, da caligrafia confusa, da caneta que lhe impõe a sua missão.

As mãos querem transcrever as suas histórias, vivências, dores, experiências, seus achismos, na folha em branco que, na verdade, já está repleta.

Rabisco textos, minutas, redações, receitas, contratos, relatórios, teses, adendos da vida alheia, linhas cheias de erros, e acertos, que muitas vezes carecem de edição e correção.

A verdade é uma só, a folha não tem opção a não ser aceitar todos e quaisquer tipos de textos que lhes impõem.

É possível ressignificar, atribuir um novo significado a essa folha em branco, dar um sentido diferente, redefinir a sua missão.

Existiu outra função antes de ser simplesmente uma folha em branco vazia, esperando a expressão, impressão e anseio alheio?

Surge, então, uma vaga memória, uma mísera lembrança quase que findando em meios a tanta insatisfação e inconformidade de utilidade.

Nem sempre a folha em branco, foi uma folha branca, era uma folha viçosa, uma folha com limbo.

Sim, ela já foi Árvore, verde forte e imponente em meio à natureza.

Já foi celulose, já foi descanso para os pássaros, refrigério de sombra para o homem cansado.

Cheiro suave no meio do silêncio, copa invejada por todos os olhos.

Quando cortada, era forte e logo se regenerava.

Suas folhas produziam um mel com sabor e cheiro característicos de sua essência, suas folhas ofereciam cura para o respirar humano.

Folha branca, já foi folha verde, em seu estado vegetal abre os brônquios, e agora remete boa sensação de livro novo, de livro velho.

Estímulos de expectativas, ativa o sentido de liberdade nas mãos de quem possuir essas folhas em branco.

Em suma, a folha em branco percebeu que sempre teve maior valor, imensurável, fundamental, a folha antes verde e agora branca.

Não apenas recebe ou oferece, ela serve e servir é melhor que ser servido.

Folha querida, antes produzindo oxigênio e ar puro aos pulmões, hoje produz oxigênio para os pensamentos e sentimentos.

Existe diferença entre ferramenta e instrumento, eu como folha em branco, não sou apenas uma ferramenta com único fim.

Me transformo em instrumento facilitador, que sofre modificações, a função é servir e conduzir, não apenas uma folha em branco vazia.

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Autora: Eliane Batista / @elianeamapa

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