Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | E o que lemos para nós?

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O ano começa e lá vem tudo de novo: escola, novidades, trabalho fora de casa, trabalho dentro de casa, trabalho dentro de nós.

E nessa rotina que pode ter dado uma relaxada no período de férias (das crianças, porque geralmente nós estamos em constante trabalho), talvez a gente tenha conseguido umas horinhas a mais de sono, de pijama, de séries ou de leitura. Espero que boas leituras nos acompanhem pelo ano que segue.

Como o assunto da coluna é literatura, vou começar o ano com um texto para nós: mulheres. Diferentemente dos textos anteriores em que escrevo sobre literatura infantil, neste quero escrever sobre uma linda literatura para nós. Você conhece a escrita de Conceição Evaristo? Eu comecei a ler suas obras no início da pandemia e pretendo continuar a ler e reler.

Essa mulher é incrível, sua escrita me toca, me emociona. Mineira, nascida em 1946, Conceição Evaristo, em suas produções, destaca a realidade na ficção com temas que mostram sua grandeza. Deixo aqui um convite às leitoras: ler ou reler o conto “Olhos d’água”, publicado no livro com o mesmo título. Compartilho com vocês um dos trechos que mais me sensibiliza:

Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida (EVARISTO, 2016, p. 16).

Quando li este conto, especialmente este trecho, lembrei da minha infância e de como minha mãe inventava refeições para camuflar a escassez de alguns alimentos. Lembrei das histórias que minha mãe contava de sua mãe, das histórias que minha tia-avó paterna guardava em sua vida e que os mais jovens nos contavam. Eram histórias de pobreza, de amor e de injustiças. Conceição Evaristo traz para o meu mundo esse encontro comigo e com as mães que a minha história carrega, a sua escrita faz esse movimento com beleza e força. 

Espero que, neste ano, entre as atividades de nossa rotina, entre os livros que lemos para nossas crianças, possamos encontrar um bom livro que nos abrace e nos faça perceber a força das mulheres e a grandeza da vida.

Boas leituras!


Referência:

EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

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