Quando uma mãe escreve

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De manhã não pode ser. Apronta a frutinha, o café, o pãozinho e o Nescau da menina, e um almoço vai brotando. Enquanto, distraído em seu cercado, o bebê aguarda a substituição da fralda, que está cheia da papinha de ontem já depurada em seu tenro organismo. A medida é urgente! Com as panelas ainda cheias de sumo o bebê é levado, renovado e reintroduzido em seu cercado.

Há muito que fazer. Os alimentos se transformam no fogão e vão ganhando ares de refeição. Deixam no processo as carcaças do preparo, que se somam às peças do desjejum matinal. Tudo agora demanda limpeza e ordem para o próximo uso.

Mas o bebê fatigou-se da pequena jaula colorida; quer andar e a passos cambaleantes corre para a porta em busca de sol e do quintal. Enquanto isso, a menina reclama a falta da blusa preferida. Realizam a busca e é hora de partir para o pequeno circuito de atividades físicas para o estímulo motor do estreante neste mundo.

Persegue aves, sobe e desce umas tantas vezes a rampa montado no pequeno triciclo, até que cede ao cansaço e pede colo.

Vem chegando a tarde. Será agora, então? Antes a menina tem escola, precisa almoçar e receber recomendações de higiene básica e certificar-se da ordem no material. Nesta toada, o bebê é embalado e dorme, exaurido pelo exercício.

Então surge tempo; uma hora, duas, se a casa ficar silente, se a campainha não tocar, se o telefone estiver para vibrar, se o vizinho não pôr a música no último volume. Mas tem o banco – os boletos são a praga da vida adulta! E tem também aquela roupa que precisa dobrar e o guarda roupa da menina que espera por arrumação depois da caça ao tesouro da blusa sumida. E olha lá! Ela deixou os papéis do último desenho por todo lado! Se o bebê encontrar este lápis,coisa boa não vai acontecer!

Ele já dorme há duas horas, ufa! Mas a menina quer lanchar. Estudando em casa, longe dos amigos, impaciente e ansiosa, ela recorre a pequenos petiscos para saciar sua frustração. É preciso atender, é preciso entender.

O bebê acorda e reclama o colo para um despertar lento e preguiçoso. Perninhas com forças renovadas para hoje experimentar mais coisas pela primeira vez. Cuida pra não bater a cabeça, cuida pra não comer sujeira, cuida pra não tropeçar, cuida pra não ter sede, cuida da fralda, cuida de educar enquanto brinca, cuida de oferecer afeto e acolhimento entre uma risadinha e um nããããooo!

Mas olha isso: o tempo voou! Já é hora do lanchinho do bebê, frutinha, suquinho, musiquinha pra dar conta da distração durante o preparo, toma um café também – porque é preciso estar atenta – e olha lá! Chegou encomenda!

Parece que ainda não é o tempo certo, mas eis que a noite se anuncia, a menina encerra a aula e vai pro quarto falar com as amigas. Olha a hora do banho, heim menina!

E o bebê também precisa se lavar. Enche a banheira, separa a fralda, a troca de roupa, observa a temperatura da água, fecha a janela, cuidado com o vento! Relaxado, o bebê curte, joga água pra fora, molha tudo, a molha toda e ri. Ri, se diverte e sai do banho pro cadeirão. É hora da janta. Chama a menina para cear também!

Por um momento fica tudo mais ou menos tranquilo. É o sono que vem vindo e um a um derruba os habitantes da casa, cansados de mais um dia.

É agora! Alerta à qualquer barulho do bebê, confere se a menina já desligou a TV. Sim, nenhuma música no ar; o ambiente em suspensão. De noite, acha tempo neste arremedo de solidão.

Escreve na pausa, entre uma mamadeira e outra, na brecha das horas. Escreve antes do seu sono e depois que a casa adormece. Há muito trabalho para que casas sejam lares e é na pausa deste trabalho sem fim que se rende às palavras.


Texto: Monique Bonomini, sou de Poá/SP, tenho 37 anos e sou mãe de 2 crianças, uma de 10 e outra de 2 anos. Instagram: @moniquebonomini.


Revisado por Luiza Gandini.

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