Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | “A maternidade é um trauma”

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Li essa frase ao ouvir comentários sobre o filme da Netflix “a filha perdida”. Ela ficou rodando em pensamento circular dentro da minha cabeça. Nunca fez tanto sentido.

Eu não consigo imaginar outra palavra que melhor defina, apesar de também ser pesada e densa. Afinal, o que é a maternidade em uma sociedade patriarcal do que uma experiência pesada e densa mesmo?

A vida de todos ao redor continua igual, inclusive a do pai do filho – morando na mesma casa ou não. E quando digo que a vida continua igual, nem é da rotina e do dia a dia, porque isso inevitavelmente muda se o pai é, o mínimo que seja, participativo. São oportunidades e possibilidades de viver. É como se ele nem tivesse tido filho! Ele consegue trabalhar em uma boa empresa, seguir com seus sonhos e projetos.

E eu até entendo a lógica de que o bebê precisa mais da mãe no início. Mas é no início, né? Primeiros meses de vida, quem sabe!

Mas conheço mães de filhos grandes e a saga é a mesma: conciliar rotina dos filhos e trabalho. Conciliar afazeres pessoais dela e cuidados com os filhos. Conciliar ela e filhos.

Ninguém ao redor precisa conciliar tanto a vida quanto uma mãe. Ninguém ao redor precisa se adaptar tanto a imprevistos quanto uma mãe.

E isso não é porque ela quer. É simplesmente porque ela descobre que junto com o filho nasce uma carga inesperada: a sobrecarga materna.

E ela é estrutural! E ela é a base da nossa sociedade. Silenciar mulheres é o principal objetivo de um sistema que homens querem continuar no poder.
E a melhor forma de fazer isso é convencendo-as de que seu destino é casar e ter filhos, sem nem ao menos permitir que ela tenha o próprio pensamento crítico sobre isso.

São anos de, eu diria, treinamento. Desde o nascimento colocam uma boneca com chupeta e mamadeira no nosso colo e dizem: cuide dela. O que não é isso se não um próprio treinamento? Alguém perguntou se a gente não preferia pegar o carrinho e andar pelas pistas radicais da Hot Wheels? Alguém ao menos ousou pensar que talvez a gente – antes de querer cuidar daquela boneca – não queria experimentar os voos divertidos de um avião?

Não perguntam, não questionam e assim crescemos entendendo que esse é o nosso destino.

E quando encaramos a verdade de perto. O tanto que a sociedade não está moldada pra mães e filhos. O tanto que precisamos sair de cena nesse momento e, sobretudo, sentimos o sistema na pele querendo nos silenciar. Dói. Tudo isso dói na alma!

Mas eu também digo: existe força nessa dor. Existe força ao olhar nos olhos do nosso neném indefeso e pensar – independente do sexo: eu não quero deixar um mundo assim pra você.

E a luta continua, dia após dia, pra me priorizar e tocar meus projetos independente dos imprevistos.

Se era uma mulher calada que eles queriam, eu digo: o plano deu errado. Deu muito errado. E vão ter que me ouvir.

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