Ignição

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Meu peito sangra e não é metáfora. O bico rachado vaza líquido branco e vermelho em tons de mim que eu ainda não conhecia. Não é poético nem dá em rosa. Dá em dor.

Observo atenta cada expressão no teu rosto que descansa. Ouço os respiros e suspiros de ouvidos bem abertos. Já dá pra antever quando vem choro, saber que é pesadelo e que aí dentro se passa um universo intraduzível em palavras.

É desse amor que não me falaram. Que mora em olhar pra ver, em escuta que absorve. Amor que entende que se pôr no lugar do outro só serve pra se descobrir incapaz. E que a empatia mora justamente na incapacidade.

Não foi no gestar e não é no nutrir que despertou. Aqui não brota amor na dor, no medo e na dificuldade. Foi e é no desejo genuíno de te conhecer, de te acompanhar, de te compreender. Brotou dessa vontade de viver que se espelha e se inspira na tua travessia.

Chama, centelha, fagulha. O abraço é molhado pelo meu choro de querer acolhimento tanto quanto ser teu acalento. Quiçá no futuro te ver homem que se aceita vulnerável e se entrega acolhedor. Lágrima não apaga fogueira, filho.


Autora: Jéssica Brandelero

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