Coluna – A desconstrução do eu e o mergulho na maternidade

Coluna – A desconstrução do eu e o mergulho na maternidade

Compartilhe esse artigo

É tão difícil escrever sobre maternidade e ser original. Eu tenho a sensação de que tudo já foi falado. Todas os lugares-comuns já foram usados, as comparações e até mesmo as desconstruções paradigmáticas que envolvem o tema estão saturadas.

Então… por que continuar a escrever sobre o assunto? O maternar de cada uma de nós é único, uma junção entre nossas características mais sombrias e cheias de luz e nossas experiências, mas a maternidade em si tem em seu cerne uma indiscutível semelhança. Ao observar o mundo animal vemos constantemente ursas correndo atrás de ursinhos fujões, leoas obrigando seus gatinhos a tomar banho, cadelas exaustas depois de um dia vivendo pela amamentação dos filhotes e até mesmo porquinhos levados levando broncas de suas mães.

Eu fico tentando entender o fio que conecta todas essas experiências a uma maternidade única. Seja a mãe que mora perto da família, a que mora longe, a que pariu, a que adotou, a que é solo,a que tem alguém ao seu lado, a que não queria ser mãe, aquela que tenta, aquela que amamentou, mãe de dois, mãe de gêmeos, de adolescente, de adultos, atípicas, mães escritoras..e eu só consigo enxergar um ponto que perpassa por nós todas: a transformação em prol do futuro.

Longe de mim romantizar essa aventura louca em que nos metemos com nossos filhos, mas é impossível ser a mesma pessoa depois de ter um ser incapaz, que depende cem por cento de você. É impossível não deixar se abalar com o sentimento de impotência diante da magnitude de uma nova e frágil vida em suas mãos. Impossível não querer ser uma versão melhor de você, querer ser colo, amor, proteção, aconchego, acolhimento. Até quem nunca sonhou em ser mãe, ter seu próprio rebento acaba por colocar as necessidades daquele pequeno serzinho frente às suas próprias.

Eu sempre me considerei uma pessoa extremamente egoísta. Filha única e mimada sempre quis ser uma mãe nos modelos que conhecia. Uma larga rede de apoio onde a figura da mãe é central na vida do próprio filho, mas não é a responsável majoritária pelo seu desenvolvimento e cuidado. E cá estou: em um país estranho, com uma língua (nem tanto mais) estranha, uma cultura absurdamente diferente da minha, sozinha com meu marido, sem nenhuma rede de apoio e absolutamente zero luxos que eu sempre sonhei para mim.

E afinal de contas, parece ser, na realidade, o que eu verdadeiramente precisava. Com a maternidade sendo construída nesses modelos e não naqueles que eu tanto idealizei, eu só aprendi, só acrescentei à minha vida. Sou uma pessoa mais capaz, independente e menos limitada em muitos sentidos. Me transformo a cada dia em uma pessoa melhor, muito mais focada na mãe que eu quero ser para minha filha do que seria mais cômodo para mim.

Eu sei que morro um pouco todos os dias para mim. Só para poder renascer novamente como uma mãe e uma pessoa melhor. E hoje eu posso dizer que minha fase de luto finalmente acabou. Eu não choro mais por que eu costumava ser ou pelas coisas que eu gostaria de ter e que são absolutamente diferentes do que tenho em minha vida hoje, mas tento celebrar cada dia de crescimento e aprendizados que temos uma com a outra. Mesmo nos dias sem tempo, ou que a paciência já foi para o saco no segundo “MAMÃE” do dia… foi a melhor transformação pela qual eu passei na minha vida e eu faria sem pensar tudo de novo. Por mim, por ela, por nós.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário