Pactos

Jennifer Canete

Pactos, Jennifer Canete – @cupolla

Muitos não contam, mas viver é um eterno ciclo de começar e encerrar pactos. Uns são conscientes, pré-determinados, acordados — como a compra de uma casa, um casamento, um emprego. Outros são implícitos, sutis, chegam de mansinho, nos envolvem tão completamente que, quando temos aquele click, já estamos envolvidos para sempre. Um elo foi criado. Um vínculo vitalício.

Eu pensava que alguns pactos se formavam naturalmente.  Que uma chavinha vira e “puf”: as coisas fluem, tudo se resolve e acontece como deveria ser. Ah, a vida nos ensina tanto — e de maneira tão brincalhona, às vezes até cruel.

Achei que a maternidade seria assim. Afinal, eu já sou mãe, já passei por isso, estou calejada da vida e vou encarar essa segunda gestação facinho, com uma mão nas costas. Ai, esses tapas na cara!

Para algumas mulheres, o pacto da maternidade é quase instantâneo: ela segura o bebê e voilà — sabe que amará incondicionalmente aquela criança, que está disposta a matar quem é para se tornar quem ele precisa, que nenhum sacrifício será grande demais. Mas… e quando esse pacto não vem?

Pois é, não veio pra mim. Cada dia era muito difícil. Cada sacrifício doía em todo o meu corpo. Foi brutal me despedir daquela que lutei tanto para construir. E forjar a mulher que sou hoje foi exaustivo, cruel e solitário.

Não quer dizer que eu não amava o meu bebê ou que estava arrependida. Não! Eu só me sentia vazia, cumprindo o meu dever, aquilo que me comprometi. Fazia por obrigação, não por devoção. Totalmente robotizada.

Então, algo aconteceu. Depois de mais uma manhã fadigada, eu me sentia abatida, esgotada, incrédula. Foi quando olhei para o meu filho — e ele me olhou de volta. Um olhar atento e confiante. Ele só estava ali, mamando serenamente, tão seguro, em paz.

E isso foi o suficiente para eu sentir. Primeiro, fui tomada pelo amor de ter o meu bebê. Mas, além disso, senti a plenitude da mulher que me tornei. Naquele instante, eu estava mais forte, mais decidida, mais destemida. Era eu novamente — mas em uma versão aprimorada. Senti, de novo, que era dona de mim.

Hoje grito aos quatro cantos: eu fiz o meu pacto — e finalmente estou feliz por ser mãe novamente.

Isso quer dizer que, daqui por diante, vai ser mais fácil? Não. Quer dizer que não vai ser tão dolorido? Também não.

Significa que não me sinto mais como um peão no jogo de xadrez da vida, com movimentos limitados e apenas cumprindo um papel. Hoje sou a rainha. Conheço o meu jogo. Sei dos meus limites e da minha força. Reconquistei o controle da minha vida e do meu destino.

Tenho orgulho de quem eu sou. Sou compreensiva com a mãe perdida e inexperiente que eu era. Sou gentil com a minha história. E estou pronta para os novos desafios.

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