Esculhambada

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Setembro de 2024: a uma semana de completar 35 tudo parece um caos. Uma grande e incontrolável merda. Estou executando (mais) uma vivência minguada depois de haver pesquisado e estudado bastante para montá-la.

Tento voltar à natação, depois de três in(f)vernosos meses sem praticar qualquer atividade física.
Durante a semana surgiu uma herpes zoster em minha barriga que irradia dor pelas costas e Zion anda febril, com um quadro de tosse que agora preocupa.

Na semana passada estive na defensoria para averiguar se o prazo de seis meses para efetivamente iniciar pedido de pensão alimentícia estava por findar: recebi a notícia da atendente de que a previsão é de mais dois meses.

Os eventos se somam e vou me sentindo um fracasso ambulante. Sinto que estou “lutando do lado errado”. Mas não existe lado! Assim como José que tem a chave na mão e não existe porta.

Os conflitos dentro de casa continuam fazendo parte da rotina e certamente a herpes zóster decorre desse cenário de Halloween quando ainda é setembro.

Não. Não vou me matar. Apesar da vontade de aniquilamento e o cansaço que me toma. Sinto tanta raiva do mundo; do meu mundo. Raiva das “amigas” que sequer enviam uma mensagem para saber como estou e que seguramente vão me parabenizar pela “pessoa que eu sou” daqui a sete dias. Há de existir crueldade maior que o desamparo entre pares na vida adulta? “Tá cada um na sua correria”. Que porra de corrida é essa? Pra alcançar o que?! Dinheiro e vínculos capengas porque não dá tempo de cuidá-los?

Eu me sinto fracassada. Me sinto o eu lírico do poema ‘Tabacaria’, do Fernando Pessoa. É um poema que ecoa como rotina: “falhei em tudo”.
Sinto que estou sobrevivendo. Pagando uma conta ali e devendo cinco. Fazendo atendimento clínico sem perspectiva de outro trabalho que me faça pagar as quatro contas que ficam penduradas.

A angústia e o desespero me corroem por inteiro como o verme de um poema de Augusto dos Anjos. Não consigo me separar porque não tenho dinheiro pra me sustentar. Não consigo trabalhar porque tenho que tomar conta de três meninos e uma casa. E tudo vai ficando adiável, o que não combina com minha pouca paciência.

Eu sei que as coisas podem melhorar. Na verdade, talvez essa seja somente uma esperança minha. Estou apostando todas as minhas fichas no ano que vem com a entrada de Caetano na escola. Que seja um fator que desentrave essas questões: me separe em definitivo, a defensoria dê entrada no processo de pensão, eu consiga trabalhar mais, estudar pra concurso e mestrado e com 35 anos consiga fazer o que desejei ter feito aos 34.

O dia amanhece agora e os primeiros pássaros começam a cantar. Meus olhos ardem. Vou tentar dormir um pouco. Se vou sonhar, não sei.

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Anita Vitorino / @reexistenciatelie

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