CARTA | Uma carta para a mãe que fui um dia

CARTA | Uma carta para a mãe que fui um dia

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Segura aqui na minha mão e senta para tomar chá comigo. Antes espero que você tome um banho morno demorado e escove seus cabelos. Deixa eu te contar aquilo que você não sabe, mas deveria. 

Vejo hoje o álbum de fotos e te procuro neles. É você a fotógrafa do bebê em crescimento. A moça de camisola escondida dos flashes por não se achar bonita o suficiente. Nas poucas fotos em que te vejo percebo uma criatura adorável, frágil e forte ao mesmo tempo. Você está a ponto de chorar, mas disfarça bem. Eu, por outro lado, já aprendi que é melhor transbordar. A dor que vem de dentro atinge a superfície, liberando a carga que oprime o peito. 

E se lhe envio essas palavras é porque te amo. Aliso sua imagem com a ponta dos dedos e lhe dou o abraço de que você precisava, mesmo que só seja real em minha mente. E ainda digo: você está fazendo um excelente trabalho. É uma mãe maravilhosa. É sim, por mais que duvide. Você faz o melhor possível dentro das suas possibilidades. 

Perdoa a si mesma por não ser perfeita ou, ao menos, aquilo que você acredita ser a perfeição. Não estabeleça metas impossíveis, não se ponha em dias difíceis de propósito. Ninguém deveria precisar sofrer para ser considerada boa mãe. 

Você não precisa ter a barriga chapada em um mês, nem em anos se não quiser. Saiba que as redes sociais vendem beleza irreal para comprar insegurança. Preserve-se, peça ajuda. Não é menos mãe se delegar tarefas com o bebê para outra pessoa. Eles podem não fazer do seu jeito, mas quem disse que só há um jeito certo? 

Pensar em si mesma não é egoísmo e perder o controle é inevitável. Não se anule nem se esvazie, pois só se consegue dar aquilo que se tem. O melhor presente que seu filho pode ganhar não é um tapete de atividades, mas uma mãe feliz. 

Sei que não tem prazer em chorar sozinha no banheiro, comer comida fria ou desmaiar de sono no sofá. Você merece muito mais do que apenas sobreviver. 

Diminua expectativas. Não tente agradar a todos. Escute com respeito o que lhe dizem, mas siga sua intuição que pulsa junto aos seus batimentos cardíacos. 

Entenda que nem sempre o que funciona para uma mãe, funciona para outra. Compare-se menos e curta mais. Você é a melhor mãe que seu filho poderia querer e a mais linda, descabelada ou não. 

Tudo passa. Pode parecer que não, que as noites longas serão eternas e que você não dará conta. Pensa que vai enlouquecer de exaustão. Eu sou a prova, sou a você do futuro. Afirmo que passa. Cada dia é melhor que o outro, não porque não haverá novos desafios, mas porque agora é mais forte e acredita em si mesma. 

Você é incrível, 

Almira, um ano depois.


Autora: Meu nome é Almira Dantas, tenho 32 anos, sou nordestina, natural de Natal, RN. Sou médica, mãe de uma garotinha de 3 anos e escritora. Publiquei recentemente uma ficção histórica regionalista chamada O voo da pequena assum, que trata de temas como desigualdade social e de gênero. Atualmente trabalhando em um projeto de contos sobre maternidade real, do qual faz parte o conto Carta para a mãe que já fui um dia.

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