Ela levantou de madrugada
Deu o peito, trocou a fralda,
Aproveitou que estava acordada
Para pensar despreocupada.
Cuidou da febre, brincou de bola,
Ensinou as palavras de gentileza,
Viu crescer aquele ser
Que criou com delicadeza.
Poderia ser doutor,
Ou quem sabe engenheiro.
Poderia se casar,
Trazer netos para casa.
Não imaginou que aquela vida
Tinha sonhos que não eram seus,
Com ideias próprias crescia,
E no mundo se perdeu.
Não deu notícias nem apareceu.
Nem lembrou do peito rachado
Ou do bumbum que não ficou assado,
Só dos sonhos que não eram seus.
Como pode a criadora
Sonhar sonhos pelos filhos,
E depois sentir o vazio
Da vida que não viveu?
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Autora: Adriana Manucci, poeta poços-caldense / @manucci.adriana





