Sobre o maior amor do mundo – Por: Paula Marcolin

Sobre o maior amor do mundo – Por: Paula Marcolin

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Nunca fui o tipo de pessoa convencional, que segue esse ou aquele padrão. Na verdade padrão é uma palavra que sempre me causou estranheza e até certo ponto aversão. Ainda não entendo como as pessoas acham graça em ser igual, em ter o cabelo igual, usar roupas iguais, ter comportamentos iguais, comer as mesmas coisas, falar as mesmas coisas. Acabam vivendo em uma equivalência que anula a própria individualidade. Enfim, cada um tem seus motivos, assim como tive os meus para escolher viver em constante transformação.

Sou uma criança sonhadora, uma adolescente que não pensa em príncipe encantado, uma jovem que se veste como quer, uma adulta que escolhe sem amarras o que ser e quando ser. E foi assim que me fiz, sem limites. Como tudo na vida, um dia me deparei com uma vontade muito grande de ser mãe, mesmo sem aquele sentimento de continuidade ou de imagem e semelhança como via em muitas mulheres. Eu apenas soube que estava pronta para a maior tarefa da minha vida.

Mesmo tendo planejado ter um filho e feito os exames necessários para me certificar que tudo andava bem, não posso negar que aqueles dois risquinhos no teste de farmácia me deixaram paralisada por algum tempo. Sim, eu estava grávida.

Sentei no chão do banheiro e lá fiquei por uma eternidade. Minha cabeça alternava entre conceitos de fisiologia e as mais diversas fantasias que rodeiam a espera de um bebê. Entre tantas informações e sentimentos só tinha a certeza de que aquele momento nem de perto era como imaginava. 

Eu pensava que iria chorar e rir de alegria, preparar uma daquelas surpresas para dar a boa nova para o futuro papai, fotografar e colocar no Instaram, mas não, eu apenas continuei sentada com a mão sobre a barriga esperando a euforia chegar. Não, ela não chegou. Ao invés disso fui inundada por uma calma e serenidade nunca antes vistas.

O tempo passou, ouvimos emocionados o coração que já batia e acompanhamos dia a dia o crescimento manso do nosso pequeno Joaquim. Era chegada a hora de tê-lo nos meus braços e finalmente sentir aquela emoção e amor incondicionais que toda mãe sente. Afinal de contas, nasce um filho, nasce uma mãe, não é mesmo? 

Poder ter sido assim com você e com tantas outras mães que conheça, mas comigo foi diferente. Eu senti uma enorme emoção ao ouvir aquele choro e respirei aliviada ao vê-lo saudável e perfeito. Foi uma sensação de dever cumprido, de ter feito, até aquele momento, tudo certo e um instinto de protegê-lo a qualquer custo.

Depois desse momento não existiram mais dias ou noites, todos os compromissos se tornaram adiáveis, as prioridades mudaram, eu me encontrava raramente comigo mesma entre uma mamada e um banho rápido e cada vez mais me perguntava o que havia de errado comigo. Onde estava o amor maior do mundo? Onde estava todo aquele romantismo pintado sobre mães e filhos que eu não via?

Cheguei a pensar em depressão pós-parto, rejeição, abandono, me senti a pior criatura do mundo por não ter sentimento tão nobre dentro de mim, até que um dia parei, respirei e entendi que não havia nada de errado, mas que, assim como tudo, haveria um tempo certo para o amor.

Segui com meu instinto zelando, defendendo, rindo, cantando, tirando um milhão de fotos, sem cobranças, sem preções, sem padrões e nos dando o tempo necessário para um dia nos encontrarmos. Tempo, era apenas o que precisávamos.

Nosso day one foi exatamente no dia 881 de vida do pequeno. Brincávamos no parque como quase todos os sábados pela manhã, corríamos jogando futebol. Entre um drible e outro caímos no gramado e a gargalhada comeu solta. Depois do fôlego recuperado, nos olhamos sorrindo e ficamos segundos em silêncio. Foi o que bastou para entender o quão sublime e infinito é o amor verdadeiro. Não havia nada de excepcional, não soaram trombetas, os sinos não bateram, nem fogos estouraram, apenas tivemos a certeza de estarmos um pelo outro sempre e todo dia.

No final das contas percebo que acabei criando uma regra, a de seguir minha intuição mesmo que não faça sentido, mesmo que seja estranho. Respira, inspira, espera e não pira que o universo sempre conspira na sua direção.

Autora

Meu nome é Paula Marcolin, sou nutricionista, gestora de projetos, cozinheira, mãe, nômade, aprendiz e escrevedora. Sou uma entusiasta do novo, devoradora de livros e faço da escrita minha maior terapia. Apesar de tantos acontecimentos, descobri minha maior paixão há três ano, o meu pequeno Joaquim.

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