Ser mãe é existir para si mesma

Ser mãe é existir para si mesma

Compartilhe esse artigo

Você já recebeu alguma maldição por ser mãe?

Ser mãe é padecer no….

Quem pariu Mateus que…

Só aguenta o filho quem….

Você nunca mais vai dormir…

Sua vida it´s over, baby! E por aí vai…

São tantas maldições que fica difícil ser otimista, mas eu nunca me conformei com estas maldições. Quando me tornei mãe, lá fui eu buscar respostas para encontrar mais vida e cor em nosso tempo curto, cheio de obrigações. Aguenta aí. É possível sim.

Um dos meus principais motivadores para começar a escrever um livro sobre maternidade foi acreditar que ser feliz e ser boa mãe andam juntos.

Todo mundo lembra de mimar o bebê. E para mãe nenhum presentinho. O bebê tem a mãe, é dela que ele precisa e só. E a mãe? A mãe precisa de pessoas que a entendam de verdade, precisa de amigas que não as julguem, de mães mais velhas que as empodere, precisam de paz. Ah, um punhado de paz é o melhor que você pode dar a uma mãe que acabou de ter um filho.

A sociedade me dizia: suma, não exista, tenha uma vida de mãe sem graça, mais preto e branco que puder, já era, você é mãe, sofra! […Risadas sarcásticas…]

Não, eu não posso, não quero, não vou ser penalizada por ser mãe. Entendo perfeitamente que preciso priorizar minha filha, mas sofrer por isto, não. Eu quero ser inteira, completa, autêntica. Que eu seja um bom exemplo para minha filha.

Quando minha pequena tinha meses de vida eu sentia muita necessidade de viver por ela. E foi bom, naquele momento. Eu vivenciei sem pressa, sem agenda, o tempo para “nós” passava diferente. Entrei no submundo da maternidade com toda minha alma. Não queria me arrumar ou sair de casa. Esquecia de minhas próprias necessidades. E estava tudo bem.

Porém, com o tempo, senti a necessidade de “existir”, até para ser mais completa e inteira para minha filha. Com um ano e dois meses a coloquei meio período na escola, mesmo antes de começar a trabalhar em algo, precisava de mim novamente, e fiz por amor-próprio, sem culpas.

De repente, foquei em mim, e notei pela primeira vez que ao me libertar estendia esta confiança à pequena, ela estava confiante, radiante pois tinha seu espaço, ela tinha uma vida fora dos braços da mãe, fora das minhas escolhas. Não precisava me agradar, naquela sua vida escolar ela iria conviver com outras pessoas, e aprender mais sobre si mesma.

Na minha teoria, quanto mais feliz a mãe estiver, mais feliz será o bebê. E quanto mais feliz estiver o bebê, mais feliz estará sua mãe. É um ciclo que se retroalimenta, uma coisa não anula a outra.

Uma boa mãe se importa com seu filho até demais, mas sabe que precisa ter sua própria vida, e entende que necessita de qualidade de vida para dar amor. Uma pessoa cheia de amor é capaz de dar amor sem cobrar. Autoestima boa liberta mães e filhos.

Mães que vivem só para os filhos acabam quase sempre por sufocá-los numa relação claustrofílica. Criam expectativas desmedidas, e não deixam os filhos terem seus próprios sonhos.

Primeiro vamos acabar com a “romantização” da maternidade. 1,2,3, parou! Seja a mãe que melhor puder ser.

A maternidade permeia todas as outras facetas da mulher. Transborda, transmuta, de fato, a identidade se perde para sempre. Aquela mulher do passado, não existe mais. E isso pode ser assustador, caótico, mas também ótimo. Porque você pode se reinventar e se redescobrir muito mais.

A maternidade de fato invade cada poro da mulher se ela permitir. Se não resistir, acontecerá uma mudança brusca em seu DNA. Não resista e vai melhorar em todos os outros aspectos. Eu não acredito que se tornar mãe te anula como mulher e indivíduo, muito pelo contrário. Você transcende como ser humano.

A questão é como incorporar seus sonhos e desejos nesse novo jeito de viver, já que tem o pacotinho mais lindo do mundo clamando por atenção e amor.

Acredito que a chave para isto seja dedicar algum tempo para algo que “goste”, não precisa te dar retorno financeiro, não precisa de um resultado prático. É um voltar a se divertir, se dar “um mimo”, relaxar. Precisamos nos dar esse tempo. Olha meu exemplo, comecei a escrever sobre maternidade quando minha filha tinha 3 meses e depois senti vontade de pintar aquarelas, agora cultivo hortaliças, minhas paixõezinhas, e depois de publicar o livro, quem sabe? Acho que a vida tem que continuar. Estou feliz!


Autora: Sou Rafaella Lobato, artista plástica e escritora.


Este texto foi revisado por Fernanda Sousa.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário