Filha,
a gente navega nas águas uterinas
antes de respirar esse ar
a expansão e contração do nosso diafragma
acontece como
água viva no mar
antes de se movimentar e receber o ar
Sentimos a pulsação,
células a se organizar
dentro de um órgão chamado útero
um centro de poder,
gerador de vidas,
segundo coração no corpo da mulher
trilhões delas
células recebem outras tantas,
cedendo, abrindo, transformando
corpo em feitura de
abrigo, morada, passagem
magia vida
acontecendo
Um corpo sendo abraço
colo nutrição de outro
o coração a pulsar
um órgão do sentido
sentindo
sentir
Sente
seu corpinho, saída ali do meu útero, meu colo do útero, canal vaginal e vulva.
Meu assoalho pélvico cedeu, abriu, vc dançou, girou e chegou no meu peito.
Ali eu senti, você sentiu, nossas peles se encontraram, nossos olhos, toques e o quente mais quente que já recebi em meu peito.
Em seu impulso, se movimentou em direção ao meu peito. Lugar nutridor de sua vida nos meses que se sucederam.
O tato como primeiro sentido de percepção
ar toca a pele
um corpo toca outro
Existe possibilidade de mover o coração
de se mover com essa presença no corpo
a partir do coração
Sentir tocar respirar
Existe movimento dentro e fora de nós
o coração é abraçado pelos pulmões
Mãe,
rememorar esse momento de conexão
mar ancestral, pulsação original
Mãe e filha,
fazer do sentir expressão
do amor ação e conexão.
Autora: Jessica é mulher e mãe. O trabalho socialmente visível e remunerado é como psicóloga, já foi artista e educadora. Atualmente se experimenta como escritora. Veste lentes de poesia, escuta naturezas e borda flores no linho da vida. @jessica.flor.e.ser.