“Pãe”? Tô fora, pego minha maternidade e vou embora

“Pãe”? Tô fora, pego minha maternidade e vou embora

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Dia dos pais chegando e com ele aquelas propagandas maravilhosas que a galera gosta de fazer que fogem totalmente à realidade do Brasil. Pais presentes, afetuosos, sorriso no rosto e filhos felizes. Quem dera. Não é querendo ser estraga prazer de uma data tão comercial quanto às outras, mas, cá entre nós… há o que comemorar?

Os dados a seguir são de 2013, mas com certeza já deve ter crescido bem mais no último semestre. Segundo o IBGE, mais de 5,5 milhões de crianças no país não têm o nome do pai na certidão, e mais de 20 milhões, de mulheres são mães-solo, o que nos leva a uma conclusão: há negligência aí, e muita.

A gente sabe que ser mãe não é fácil. Falamos todos os dias sobre o quanto a maternidade é solitária, sobre o quanto estamos cansadas e não temos rede de apoio. Como estou sempre em contato com mães, todo dia é uma história diferente sobre pagamento de pensão. É incrível como o mínimo que é garantir direito à alimentação, os progenitores não fazem. Aí, sobra pra quem? Para a mãe, claro… ouvimos as seguintes frases animadoras:

“Quem mandou escolher esse cara pra ser pai do seu filho”; “Por que você não coloca ele no pau”; “Ah, mas ele não tá trabalhando, tem de entender”; “Ah, mas eu pago R$300,00 e você não consegue fazer o dinheiro render?”; “Ah, mas ela quer pensão pra poder usar pra comprar as coisas dela”... a lista é grande, mas com certeza alguma dessas você deve ter ouvido, e dói, né?

É injusto demais ainda sermos culpabilizadas por uma ação que não é nossa. Então, voltamos à estaca zero: patriarcado e machismo. A mulher sempre será culpada por suas ações, ou as ações do homem. Isso é mais que comprovado, é vivência.

Se você é estuprada:
Quem mandou sair na rua vestida assim?
Se sofre violência doméstica:
Quem mandou não se separar logo?
Se você não recebe pensão alimentícia:
Quem mandou se envolver com este cara?

Quem mandou, quem mandou e quem mandou? Nos culpam a cada segundo na nossa vida por tudo… tudo!

A romantização de sofrimento também é algo muito comum. Não temos ajuda e, muitas vezes, as pessoas nos veem como guerreiras, aquelas que conseguem fazer tudo sozinhas. Casa, filho, trabalho, mas as pessoas não entendem que estamos cansadas e não queremos o título de mulher maravilha, mas, ajuda! Nossos textos, ações e nossas olheiras clamam por apoio.

Datas como o dia dos pais nos colocam num beco sem saída por alguns motivos: O pai do filho não é presente, não paga pensão, sequer liga pra saber da criança. A escola ainda insiste em fazer atividades voltadas para esta data. Nos cobram uma presença paterna que não tem como realizarmos.

Essas datas só reforçam o sofrimento que também é da criança, afinal, não receber nenhum afeto do seu pai, não me parece algo que muitos recebem com sorriso no rosto, principalmente quando havia uma presença e ela se foi… ai, bate aquela dúvida: “O que vou falar pro meu filho(a)?”

Não seja “Pãe”!

É! É complicado demais ter de levar o mundo nas costas e ainda ser chamada de “pãe”. Nós não somos “pães”, isso ai a gente compra na padaria. Nós somos mães que estão cansadas e levando títulos que não deveríamos levar. Essa palavra só exalta toda a sobrecarga mental e física que fomos adquirindo. Se você criou o seu filho sozinha, não se permita ser chamada de “pãe”, levar dois títulos por ter feito somente um (e em dobro), não é gratificante, só reforça que você fez mais do que deveria ter feito.

Datas que reforçam papéis, têm de acabar

Como dito lá em cima. Ainda, infelizmente, muitas escolas estão promovendo essas datas. Fazem as crianças prepararem cartões e apresentação pro dia dos pais e mães, mas não deveria ser assim. Temos novos modelos de famílias e, muitas delas, não incluem um pai. Fazer essas “comemorações”, só levanta questionamentos e culpa em cima da criança. E, pior, é excludente e não abraça a todas.

Por isso, converse nas escolas (se elas ainda praticam essa ação). É importante cuidarmos da saúde mental dos nossos filhos, pois eles são seres sociais, e como tal, também estão sujeitos a todo o tipo de vivência e o papel dos responsáveis é orientar, porque dentro de casa ele pode ser aceito, ter um diálogo legal, mas o mundo também cria e nós sabemos que essa sociedade não é das melhores. Converse com outros responsáveis sobre isso.

E se você é filho(a), e por algum motivo não tem o seu pai por perto, seja por rejeição ou qualquer outro motivo, procure sua mãe, dê um abraço nela, mas não deseje feliz dia dos pais, porque ela sempre foi sua mãe, e fez além do que deveria ter feito. Não romantize tudo o que ela passou. Só diga que ela é importante pra você.

E você, mãe, que tem filho pequeno, o diálogo é fundamental neste momento. A gente precisa começar a praticar desde cedo. E outra coisa, não se sinta culpada. Não carregue pra você ações que não são suas. Você faz o seu melhor, é a melhor mãe que seu ou sua pequeno(a) pode ter.

Até mais.

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