Naquela noite alguém se esqueceu de desligar as luzes das estrelas. Ao amanhecer fui para as urgências em trabalho de parto que se prolongou pelo resto do dia.
Passados 2 anos, continua a ser difícil falar sobre o que aconteceu naquela ala de obstetrícia, o que eu e provavelmente muitas mulheres que se encontram num dos momentos mais frágeis das suas vidas passaram devido à má conduta profissional que deixa cicatrizes não só na pele como na alma.
Em pleno século XXI, ouvi nos corredores enfermeiras e o médico de serviço rirem-se de mim porque “estava a gritar muito”. A minha dor foi motivo de gargalhada, porque a mulher deve carregar a sua cria durante nove meses e parir em silêncio, sem muito alarido.
Uma sociedade repressiva que nos amordaça e até quer controlar a forma como lidamos com a nossa dor. Houveram momentos felizes talvez, mas este que partilhei e tantos outros ficaram gravados na minha carne e causaram em mim um grande medo de entrar em hospitais.
Há bons profissionais, que se entregam e fazem a diferença com empatia, respeito e consideração; outros aproveitam o seu cargo e a vulnerabilidade de quem precisa dos seus serviços para humilhar, ferir e ofender.
Foram 3 dias que não esquecerei. Levo-os comigo aonde quer que vá e trato todos os que de mim se aproximam com bondade e simpatia. Todos nós carregamos histórias, mas o livro somos nós e a narrativa é controlada pelas nossas ações.
Autora: Bárbara Pereira – @barbarafaela__. 24 anos, Portugal, mãe de uma menina.