Maternidade

IMG 7146 Camila Alkmim Bianco Januario

Jogo intrigante e incerto, cheio de reviravoltas, tropeços e vitórias. As regras parecem inúmeras, mas todas se baseiam na ideia de que, na verdade, não há regras. Por mais embasamento que busquemos — por meio do acesso a informações com evidências científicas, das mais recentes e credíveis, sobre o entendimento de bebês, da infância e de seu desenvolvimento — particularmente considero isso bastante importante e acredito que faça, sim, alguma diferença ao oferecer sugestões e horizontes.

No entanto, na prática e no decorrer do dia a dia, tudo se revela como uma roleta-russa insana de tentativas e erros, baseada em (muitos!) tiros no escuro e em incontáveis momentos de: “Fiz o que deu, o que esteve ao meu alcance…” “Fiz o que foi possível dentro das minhas possibilidades físicas, emocionais, psicológicas, e observando/considerando as particularidades do(a) meu(minha) bebê diante da necessidade/situação apresentada.”

E quando essa realidade se escancara em nossas vidas, trazendo a vulnerabilidade em suas versões mais doces e mais azedas — ao mesmo tempo — numa contradição desenfreada e quase insustentável, percebemos nossa pequenez diante da falta de controle sobre as coisas. Sim, por vezes, bate o desespero, o desamparo, as inseguranças, as incertezas. Dentro da nossa humilde humanidade, vem a dor do não-saber — e ainda assim, a necessidade de agir.

Escolhas. Prioridades. Vem nossa criança interna pedindo socorro, enquanto, ao mesmo tempo, percebemos que desta vez somos os adultos da rodada. E exigimos de nós postura, consistência, sabedoria, e tantas outras coisas… Enquanto, no fundo — por muitas vezes — tudo o que queríamos era sentar num canto escuro, escondidos de tudo e de todos, e simplesmente fazer vários nadas.

Enfim… a maternidade, aparentemente, é um jogo vitalício. Uma vez que você começa, não termina. Não é competição, mas também não é permitido desistir. Não há vencedores nem perdedores. São infinitas rodadas, com desafios dos mais diversos, em muitas fases — num looping eterno, delicioso e enlouquecedor.

Mesmo quando o tabuleiro do jogo não está diante de você, ele estará sempre com você. As estratégias para os próximos passos serão pensadas incansavelmente, 24 horas por dia — inclusive durante o sono, nos sonhos à noite ou em tantos e muitos momentos de vigília noturna.

É o jogo mais intenso de todos. Não vem com manual de instruções. Parece até piada de mau gosto, uma armadilha (e muitas vezes acho que é mesmo).

Mas também é um presente.

Um lindo presente.
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Autora: Camila Alkmim Bianco Januario / @camilaabianco

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