Na tecelagem da maternidade, cada dia é um fio que se entrelaça com a criança, construindo um maternar único e pessoal. É nessa jornada que descobrimos nossa própria forma de ser mãe, moldando-nos a cada experiência vivida. Mas, e quando esse tecido tão rico é privado de suas cores e texturas essenciais?
Para muitas mães, a maternidade se torna uma batalha contra o implacável ritmo do tempo e as barreiras impostas pelo sistema. A falta de informação é como um véu que nos cega e nos surpreende com suas armadilhas. E na sombra dessa desinformação, as mães de crianças surdas encontram-se em uma posição ainda mais delicada, envoltas em uma maternidade atípica, silenciosa e desafiadora.
A maioria das crianças surdas nascem em lares onde a surdez é um mistério não desvendado. O sistema, em vez de ser um farol de conhecimento, parece engolir essas mães em um mar de silêncio. A falta de orientação prejudica não apenas suas decisões, mas também o desenvolvimento de seus filhos. Criar um filho surdo é experienciar uma nova língua, repleta de nuances e complexidades. Para garantir o direito linguístico e uma comunicação eficaz com seus filhos, essas mães anseiam por acesso a informações sobre o universo surdo.
Ao nascer uma mãe, ao nascer um filho surdo também é chegada uma nova língua. Será? Como pode uma mãe saber que existe a possibilidade de aprender Libras se não há informações ao seu alcance? Caso se apoie nas tecnologias atuais, como, por exemplo, a televisão, será que as programações oferecem informações suficientes? O básico, os fundamentos sobre a surdez, a comunidade surda e a Libras, são negados a essas mães pela falta de orientações de fácil acesso.
Em meio as vulnerabilidades e sob a influência de muitas inverdades, a culpa recai injustamente sobre as mães, como sempre. Num mundo onde a culpa parece ser distribuída mais facilmente do que soluções reais, diante da perturbadora pressão para oferecer oportunidades aos seus filhos, muitas vezes se esquece da falta gritante de políticas públicas que poderiam verdadeiramente apoiá-las.
Bombardeadas com informações clínicas, em meio a um turbilhão de expectativas, essas mães se encontram constantemente na encruzilhada entre o que é socialmente considerado “normal” e as necessidades específicas de seus filhos. Saúde, educação e cultura precisam andar de mãos dadas para que essas mães possam traçar os melhores caminhos para seus filhos. Mas elas sabem disso?
Compreender que muitas mães ainda não têm acesso a informações básicas e essenciais é importante, pois imaginem o quão desafiador é para elas obterem conhecimento sobre uma comunidade que, até recentemente, era estigmatizada como “doente”. Reconhecer a criança surda como um indivíduo com sua própria língua é garantir sua inclusão, desenvolvimento e futuro. Mas para isso, é necessário oferecer informações para que essas mães possam escolher qual caminho trilhar.
A culpa não pode ser o substituto para políticas públicas urgentes, eficazes e inclusivas. Preencher os vazios da desinformação é tecer um futuro inclusivo, acolhedor e justo. Esta é a jornada que todas as mães merecem percorrer, uma jornada onde o conhecimento é o fio que une e fortalece cada passo.
Tatiana de Barros – @tatyabli