Setembro é um mês de conscientização, marcado pela campanha do Setembro Amarelo, voltada para a prevenção do suicídio. No entanto, para aqueles dentro do espectro autista e seus familiares, o tema carrega uma carga emocional ainda maior.
A realidade de viver com autismo é complexa. A sobrecarga emocional pode ser esmagadora, e questões como bullying, isolamento social e a dificuldade em expressar sentimentos podem elevar os níveis de ansiedade e, muitas vezes, levar à depressão. O mundo às vezes pode parecer não apenas confuso, mas também emocionalmente exaustivo, residindo aí um perigo eminente de desconectar-se de uma vida na qual não se sente pertencente.
O complexo mundo autista
Não importa o nível de suporte, a intensidade de seus sentimentos e ações é sempre muito grande. A profundidade de suas vontades e a autenticidade de suas expressões sempre impressionam. Enquanto nós nos moldamos a padrões sociais muitas vezes tóxicos, os autistas permanecem verdadeiros a si mesmos. No entanto, essa autenticidade, em um mundo que valoriza a conformidade, pode ser uma fonte de sofrimento.
Autistas de nível 1 de suporte, têm plena consciência de suas próprias dificuldades. Essa autoconsciência pode ser um fardo emocional pesado, levando à frustração e ao isolamento. Eles sabem que são diferentes e essa percepção de inadequação perante os padrões sociais pode se transformar em uma dor profunda e se transformar em depressão.
Já nos níveis 1 e 2 de suporte, o impacto emocional também é imenso, embora por razões diferentes. Fatores fisiológicos e neurológicos, combinados com os desafios do dia a dia, tornam a carga emocional igualmente pesada.
O peso invisível que as mães e familiares carregam
O papel da mãe de ser a linha de equilíbrio entre o caos e a serenidade é uma tarefa desafiadora.
Muitas vezes a sensação de impotência, especialmente durante crises, é devastadora. Ver um filho em sofrimento e não conseguir aliviá-lo é um golpe que deixa marcas profundas. A culpa, o medo de não ser suficiente, de não ter feito o suficiente estão sempre presentes, agravado pelo cenário cada vez mais comum do divórcio entre pais atípicos.
A sobrecarga emocional e a necessidade de redes de apoio
A carga emocional não afeta apenas o autista, mas todos ao seu redor. Mães, pais e cuidadores frequentemente carregam não somente suas próprias emoções, mas também o dos filhos. A busca incansável por terapias, intervenções e soluções para melhorar a qualidade de vida se transforma em uma maratona emocional que pode levar ao esgotamento.
Risco elevado de suicídio em autistas – É dolorido, mas é necessário falar sobre
Estudos mostram que pessoas autistas têm uma probabilidade 3 a 9 vezes maior de tentar ou cometer suicídio em comparação com a população neurotípica. Isso é especialmente verdadeiro para pessoas autistas de nível 1 de suporte, justamente pela maior autoconsciência de suas dificuldades sociais.
Segundo um estudo do British Journal of Psychiatry o suicídio é uma das principais causas de morte em adultos autistas, relatando que cerca de 66% dos adultos autistas sem deficiência intelectual relataram pensamentos suicidas em algum momento da vida.
Estudos mostram também que pais e cuidadores de crianças autistas têm um risco aumentado de desenvolver depressão e ansiedade, em grande parte devido à sobrecarga emocional e ao estresse constante. Embora não existam estatísticas globais exatas sobre suicídio entre familiares de autistas, um estudo do *National Institutes of Health (NIH) constatou que até 50% das mães de crianças autistas sofrem de depressão devido às pressões diárias de cuidar de seus filhos. A falta de apoio social adequado pode exacerbar esse quadro.
Por isso, o Setembro Amarelo não deve ser apenas sobre a prevenção do suicídio no espectro autista, mas também um alerta para a importância de cuidar das famílias que vivem essa realidade. Redes de apoio são essenciais. Grupos de mães, terapeutas, amigos próximos e profissionais especializados são vitais para aliviar essa carga.
É importante lembrar que o autismo não afeta apenas o indivíduo, mas também todo o seu círculo familiar. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para construir um ambiente de acolhimento e prevenção.
Cuidando de quem cuida
Mães, pais e familiares, precisam de apoio tanto quanto os filhos. Embora exerçam os cuidados com força que parece inabalável, a verdade é que essa força também precisa ser renovada e nutrida. Reconhecer as próprias limitações não é um sinal de fraqueza, mas de coragem.
Falar sobre nossos sentimentos, buscar apoio psicológico e encontrar outros pais e mães que compartilham das mesmas experiências são formas de aliviar esse peso e permitir continuar.
Neste Setembro Amarelo, vamos lembrar da importância de cuidar e ajudar uns aos outros. Pequenos gestos de apoio e empatia podem, literalmente, salvar vidas.
Por Andreia Alves, Advogada, Diretora Executiva do Instituto Tonioli e mãe de um adolescente autista.